O Supremo Líder político e espiritual da revolução islâmica do Irã, aiatolá Ali Khamenei, respondeu hoje formalmente à proposta de diálogo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dizendo que o país precisa mudar o comportamento e não apenas o discurso.
Ontem, no Ano Novo iraniano, Obama enviou uma mensagem ao governo e ao povo do Irã propondo um amplo diálogo para resolver todos os problemas entre os dois países. Eles romperam relações diplomáticas em 1979, depois da revolução liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, que derrubou o xá Reza Pahlevi, um aliado dos EUA.
Durante 444 dias, de 4 de novembro de 1979 a 20 de janeiro de 1981, estudantes islâmicos radicais ocuparam a Embaixada dos EUA em Teerã e mantiveram reféns 52 diplomatas americanos.
Desde então, os líderes da república dos aiatolás chamam os EUA de Grande Satã. O Departamento de Estado americano coloca regularmente o Irã na lista dos países que apóiam o terrorismo pela ajuda que dá a grupos como Movimento de Resistência Islâmico (Hamas) palestino e a milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus), no Líbano.
Em 28 de janeiro de 2002, no Discurso sobre o Estado da União, em que o presidente dos EUA presta contas e apresenta seus planos no Congresso, George W. Bush usou a expressão "eixo do mal" para agrupar a Coreia do Norte, o Irã e o Iraque.
Bush estava preparando o povo americano para a invasão do Iraque, mas a Coreia do Norte e o Irã viram uma séria ameaça e aceleraram seus programas nucleares.
A Coreia do Norte faz uma chantagem nuclear em troca de ajuda econômica, energia e alimentos, mas um Irã com armas atômicas seria uma força de desestabilização do Oriente Médio, onde já é uma potência regional.
Sob a ótica do regime iraniano, por que o Irã não pode ter armas nucleares se o vizinho Paquistão e Israel tem?
Do ponto de vista dos EUA e da Europa, armas nucleares nas mãos do regime revolucionário iraniano serão um fator de desestabilização do Oriente Médio e um perigo a mais para Israel, que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ameaçou "varrer do mapa". Se o Irã tiver armas nucleares, o Egito, a Síria e a Arábia Saudita, sem falar no Iraque, também vão querer.
Há o risco de uma corrida armamentista nuclear.
Na realidade, se um país pobre e relativamente atrasado como o Paquistão pode fabricar armas nucleares, como observou um analista estratégico americano, qualquer um pode.
O Irã quer que os EUA mudem seu comportamento. Mas o objetivo estratégico, sob Obama, é o mesmo: impedir o Irã de ter a bomba atômica. A república e a revolução islâmicas acreditam que tem esse direito. Será um diálogo longo, tortuoso e difícil.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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