Ao receber hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Branca, o presidente Barack Obama prometeu que o Brasil e os Estados Unidos vão trabalhar juntos na luta para combater a crise econômica mundial.
Lula manifestou preocupação com a onda de protecionismo provocada pela crise, com diversos países querem proteger seus empregos e mercados, e defendeu a reabertura das negociações de liberalização comercial da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. Obama respondeu que, no momento, não há clima ampliar a abertura de mercados.
A visita marca o reconhecimento definitivo pelos EUA do Brasil como líder inconteste da América do Sul e parceiro fundamental no mundo globalizado.
O presidente brasileiro pediu o fim do embargo econômico dos EUA à Cuba, que já dura 47 anos, e mandou uma mensagem conciliadora do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Desde que as relações entre Washington e Caracas se deterioraram, por causa do apoio do governo George W. Bush ao golpe de Estado de 11 de abril de 2002, Lula é o principal interlocutor entre os EUA e a Venezuela. Os EUA, por sua vez, contam com o Brasil como intermediário nas relações com os governos da chamada esquerda radical, notoriamente antiamericanos, de Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; e Rafael Correa, no Equador.
Morales acaba de expulsar o terceiro diplomata americano em meses. Lula terá mesmo muito trabalho para reconciliar o que às vezes parece inconciliável.
Em menos de dois meses de governo, Obama reduziu as restrições para viagens e remessas de dinheiro para Cuba, ou seja, tomou medidas positivas em relação à ilha. O que faz o recém-criado Conselho de Defesa da América do Sul? Exige que os EUA suspendem o embargo econômico a Cuba?
Ora, superpotências não gostam de ser pressionadas e colocadas contra a parede. Nestes casos, a tendência é não ceder, já que isso poderia ser considerado um sinal de fraqueza.
Durante a Guerra Fria, o Ocidente vivia pressionando a União Soviética a libertar seus dissidentes mais famosos, como o físico Andrei Sakharov e o escritor Alexander Soljenitsyn. Em uma das muitas negociações secretas, um emissário soviético disse: "Se vocês ficarem quietos e não tocarem no assunto por alguns meses, pode ser. Se ficarem pedindo insistentemente, não dá."
As mentes retrógradas que teimam em ressuscitar a Guerra Fria na América Latina deveriam prestar mais atenção nas sutilezas.
O governo Obama é uma oportunidade única de melhorar as relações com os EUA. Obviamente, como presidente dos EUA, ele vai defender os interesses americanos. Mas está disposto a ouvir.
Esta é uma das principais mudanças da política externa americana no novo governo: em vez da arrogância dos neconservadores que chegaram ao poder com Bush em 2001, os EUA de Obama estão dispostos a ouvir. Querem saber o que os outros países querem.
Desperdiçar esta oportunidade em nome de um purismo ideológico é conversa para iludir ou acalmar o público interno. É a doença infantil do esquerdismo.
O Brasil não caiu nessa cilada ideológica. Lula iniciou hoje um diálogo direto, sem submissão, com Barack Obama.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário