Em depoimento na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, o presidente da seguradora AIG (American International Group), Edward Liddy, declarou ter pedido aos executivos da empresa que receberam US$ 100 mil ou mais que devolvam pelo menos metade do dinheiro. O escândalo do pagamento de bônus com dinheiro público já atinge o governo Barack Obama.
Apesar de um prejuízo recorde de US$ 62 bilhões no fim do ano passado e de sobreviver com um empréstimo de US$ 173 bilhões do Tesouro, a AIG pagou, na sexta-feira passada, US$ 165 milhões em bônus a seus executivos do departamento de produtos financeiros, justamente o responsável pelo colapso da megasseguradora.
No mercado, circula uma piada: o que significa AIG? Arrogância, incompetência e ganância.
A audiência no Congresso americano foi tensa. O presidente da Comissão de Finanças da Câmara, o deputado democrata Barney Frank, afirmou que o governo é dono de 80% da AIG e vai exigir a devolução do dinheiro dos bônus.
Liddy pediu desculpas e alegou que está no comando da empresa há apenas seis meses, não sendo responsável portanto por contratos anteriores. Ele revelou ter pedido aos 293 executivos que ganharam mais de US$ 100 mil para que devolvam pelo menos metade do dinheiro e informou que alguns se prontificaram a devolver 100% do dinheiro público.
É normal que os executivos do setor financeiro ganhem bônus calculados com base no sucesso de suas transações. Mas, no caso do colapso de uma empresa salva com dinheiro público em meio a uma crise que já deixou 4,4 milhões de americanos desempregados, é imoral.
Com a ajuda de emergência do governo, tanto o Tesouro quando o banco central dos EUA (Reserva Federal, Fed) participam da diretoria da AIG. Portanto, sabiam do pagamento dos bônus e não fizeram nada para impedi-los.
O escândalo atingiu o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que até agora tem uma avaliação ruim no mercado. Ele não soube explicar claramente como será o programa de compra dos papéis podres, os títulos incobráveis ou ativos tóxicos que contaminam os balanços dos bancos.
Obama defendeu seu secretário do Tesouro alegando que os furos são da Lei de Estabilização Financeira do governo George W. Bush e que a responsabilidade final é dele, do presidente. No mercado financeiro, já há especuladores comprando papéis numa aposta de que Geithner não passa de junho.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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