Depois de cinco dias de manifestações de protesto em todo o Paquistão, o presidente Assif Ali Zardari, viúvo da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, concordou neste domingo, 15 de março de 2009, em reinstaurar os juízes depostos há um ano e meio pelo então ditador Pervez Musharraf, inclusive o presidente do Supremo Tribunal, Iftikhar Mohammad Chaudhry.
Os Estados Unidos saudaram positivamente a decisão, anunciada oficialmente na manhã desta segunda-feira na televisão pelo primeiro-ministro Youssaf Raza Gilani. Chaudhry reassume a chefia do Poder Judiciário paquistanês no próximo dia 21 de março
Cerca de 60 juízes superiores foram destituídos em novembro de 2007 pelo general Musharraf, que lutava na época por um terceiro mandato consecutivo de presidente que o Supremo consideraria ilegal.
A intervenção no Judiciário permitiu a reeleição de Musharraf, como queriam os EUA, mas tornou o ditador extremamente impopular. Isso obrigou a líder da oposição, Benazir Bhutto, que os americanos pretendiam compor com o general, a atacar Musharraf para que o Partido Popular Paquistanês (PPP) não perdesse votos para a Liga Muçulmana do Paquistão do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif (LMP-N).
O assassinato de Benazir, num atentado terrorista em 27 de dezembro de 2007, provocou um caos ainda maior no Paquistão e o adiamento das eleições de janeiro para fevereiro de 2008. Como sempre, ganharam os partidos tradicionais liderados pelos grandes caciques políticos paquistaneses.
Isso levou à ascensão do viúvo de Benazir, Assif ali Zardari, um ex-playboy considerado incompetente, corrupto e despreparado, à presidência do único país muçulmano com armas nucleares.
A situação nos territórios tribais, cada mais dominados por extremistas muçulmanos, se agravou ao ponto do governo aceitar a introdução da charia, o direito islâmico, no Vale do Swat, onde escolas para mulheres tem sido atacadas.
O governo do único país muçulmano com armas nucleares é fraco e não consegue vencer a luta interna contra os jihadistas. As desencontradas de diferentes setores do governo paquistanês diante do ataque de extremistas paquistaneses contra Mumbai, na Índia, em 26 de novembro de 2008, mostra uma divisão interna e a fraqueza do poder civil.
Quem pressionou Zardari a ouvir a voz das ruas e reinstaurar os juízes foi o comandante do Exército, general Ashfaq Kayani, o homem-forte do Paquistão.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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