segunda-feira, 24 de julho de 2006

Hesbolá rejeita o plano de paz dos EUA

LONDRES - O presidente do Parlamento do Líbano, o líder xiita Nabi Berri, que atua como intermediário, anunciou que o Hesbolá (Partido de Deus) rejeita a proposta de paz da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que inclui o desarmamento das milícias, para acabar o conflito com Israel.

Depois de mais de 500 mortes, com mais de 700 mil refugiados, a guerra continua. O Hesbolá resiste e ainda tem condições de lancer foguetes contra Israel.

Na manhã de terça-feira, 25 de julho, Israel concentrava forces para atacar Marun al-Ras, descrita como um reduto do Hesbolá. Mas o xeque Nasrallah ironizou a importância dada pelos estrategistas israelenses: “Estão tratando Marun al-Ras como a Batalha de Stalingrado”, numa referência à batalha decisiva da Segunda Guerra Mundial, que interrompeu a ofensiva nazista na União Soviética e iniciou a marcha do Exército Vermelho rumo a Berlim.

Mais uma vez o mundo prende a respiração por causa de uma guerra no Oriente Médio. As imagens da tragédia estão toda hora na televisão: corpos destroçados, feridos gemendo no hospital, mães que perderam seus filhos, centenas de milhares de refugiados sem saber para onde ir, bairros inteiros e a infra-estrutura de um país que acaba de sair de uma guerra civil novamente destroçada.

O preço do petróleo está em quase US$ 75 o barril. Há o risco de uma conflagração ainda maior. Os Estados Unidos e Israel acusam a Síria e o Irã de patrocinar o Hesbola (Partido de Deus), no Líbano, e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A ampliação do conflito poderia elevar o preço do petróleo a US$ 100 o barril, com seriíssimas conseqüências para o resto do mundo, que assiste perplexo a mais uma carnificina no conflito secular entre árabes e judeus.

Esta guerra mostra ainda como é fácil incendiar o Oriente Médio. Tudo começou quando grupos militantes palestinos capturaram um cabo do Exército de Israel, que invadiu a Faixa de Gaza na tentative de resgatá-lo. Disto se aproveitou o Hesbolá para lancer um ataque na fronteira de Israel com o Líbano, matando três soldados israelenses e capturando outros dois.

Na sua última edição, a revista inglesa The Economist descreve o conflito entre Israel e o Hesbolá como “uma guerra acidental”, “sem sentido”, que talvez ninguém quisesse e que ninguém pode ganhar.

Para o Economist, é tudo muito parecido com a invasão israelense do Líbano de 1982 para “acabar com um Estado dentro do Estado”, no caso a Organização para a Libertação da Palestina, de Yasser Arafat, na época refugiado no Líbano. A ocupação durou três anos e lançou a semente do mal que Israel combate agora: o Hesbolá, uma milícia xiita financiada pelo Irã, que na época acabara de realizar sua revolução islâmica.

Agora, “o Estado dentro do Estado” é o Hesbolá, que não só participa da coligação de governo em Beirute como controlava o Sul do Líbano.

Criado sob o impacto do Holocausto, quando o povo judeu quase foi exterminado por não ter um Estado e um Exército que o defendesse, as Forças de Defesa de Israel logo adotaram a doutrina conhecida como ben-gurionismo, uma referência ao primeiro-ministro David ben Gurion, fundador de Israel: só a força garante a integridade do povo israelense e a sobrevivência do Estado judaico em meio a um ambiente hostil como o Oriente Médio.

A implicação lógica desta doutrina é que Israel não deixa de responder duramente a qualquer agressão para que isto não seja interpretado como um sinal de fraqueza. Fez isto uma única vez, durante a primeira Guerra do Golfo, quando foi alvo dos mísseis Scud de Saddam Hussein em nome de um objetivo maior, que era manter a coligação anti-Saddam, que incluía diversos países árabes e muçulmanos.

Leia mais em minha coluna em www.baguete.com.br

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