Pelo menos 66 pessoas morreram hoje com a explosão de um carro-bomba num movimento mercado de rua da Cidade de Sáder, um bairro pobre e predominantemente xiita da periferia da capital do Iraque. O ataque é visto como uma tentativa de radicais sunitas, talvez ligados à rede terrorista Al Caeda, de acirrar o conflito sectário entre árabes sunitas e árabes xiitas.
Na sua última gravação, divulgada neste sábado pela Internet, o principal líder d'al Caeda, o terrorista saudita Ossama ben Laden, disse que está havendo um genocídio dos sunitas no Iraque, autorizando os atentados contra muçulmanos como fazia o falecido líder da rede no Iraque, Abu Mussab al Zarkawi.
Isto marca uma mudança de posição d'al Caeda, que era contra a violência sectária entre sunitas e xiitas porque provoca a morte de muçulmanos. Os militares americanos afirmam ter interceptado no ano passado uma mensagem em que o segundo homem na hierarquia d'al Caeda, o médico egípcio Ayman al-Zawahiri, manda Zarkawi parar de matar muçulmanos.
Ben Laden acusa os xiitas de "traidores", "rejeicionistas" e "agentes dos americanos". Como são maioria no Iraque, cerca de 60% da população, os xiitas ascenderam ao poder com a queda da ditadura de Saddam Hussein, dominada pela minoria sunita.
"Nossos irmãos, os mujahedins d'al Caeda escolherão o querido irmão Abu Hamza al-Muhajer como seu líder em sucessão ao príncipe Abu Mussab al-Zarkawi", declara o líder terrorista saudita. "Eu o aconselho a focar sua luta nos americanos e em quem quer que os apóie e se aliar a eles na sua guerra contra o povo do Islã e o Iraque".
Os Estados Unidos identificaram Mujaher como Abu Ayyub al-Masri. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, ofereceu na sexta-feira uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que levem à sua captura.
Num ataque direto ao primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nuri al-Maliki, Ben Laden exortou os sunitas a rejeitarem seu plano de reconciliação nacional, que inclui a formação de um governo de união nacional, e advertiu-os a não participar da política. Mais uma vez, chamou as forças estrangeiras da aliança liderada pelos EUA de cruzados e os iraquianos que colaboram com elas de infiéis.
"Nosso povo muçulmano no Iraque precisa aprender que não será aceita trégua nenhuma com os cruzados e os apóstatas", vaticinou o terrorista mais procurado do mundo em tom ameaçador. "Não pode haver meias soluções e não há saída para eles a não ser lutar e sustentar sua guerra santa. Não sejam iludidos por convites para se associar a partidos e tomar parte no assim chamado processo político".
Isto significa que para Ben Laden o Conselho Consultivo dos Mujahedins no Iraque, representante da sua rede terrorista, deve ser a base de um governo islâmico autêntico.
O líder d'al Caeda terminou sua quinta gravação deste ano pedindo proteção a Deus para os "mujahedins em toda parte", inclusive na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Caxemira, no Afeganistão, na Argélia, na Somália e na Arábia Saudita.
Ben Laden advertiu ainda "todos os países do mundo para não aceitar a proposta dos EUA de enviar forças internacionais à Somália. Juramos por Deus que combateremos seus soldados na Somália e nos reservamos o direito de puni-los nas suas próprias terras e em todo lugar acessível no momento apropriado, da maneira apropriada".
Quer dizer que os cidadãos dos países que apóiam os EUA na sua guerra global contra o terrorismo podem ser alvo de células locais d'al Caeda.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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