A estratégia norte-coreana não é irracional. Com o fim da URSS, a Coreia do Norte iniciou uma chantagem atômica para barganhar ajuda em energia e alimentos para sua população miserável.
O ex-presidente americano Jimmy Carter visitou o Grande Líder Kim Il Sung, o fundador do país, e abriu caminho para o então presidente Bill Clinton, em 1994. Os dois países negociaram um acordo quadro.
Aí veio George W. Bush com seu "eixo do mal" no Discurso sobre o Estado da União de janeiro de 2002. Para não colocar só países muçulmanos, incluiu a Coreia do Norte. Um ano e pouco depois, invadiu o Iraque.
Imediatamente, Irã e Coreia do Norte aceleraram seus programas nucleares. Em 2003, ano da invasão do Iraque, o acordo foi rompido. Em 2006, Kim Jong Il, o pai do Kim atual, fez o primeiro teste nuclear.
O atual líder, Kim Jong Un, ascendeu ao poder em 2011, meses depois da queda do ditador Muamar Kadafi, da Líbia, que abriu mão de suas armas de destruição em massa pra se reaproximar do Ocidente e não teve como se defender da intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e de países europeus.
Na análise norte-coreana, a bomba atômica é a única garantia de sobrevivência do regime, que não vai abrir mão de seu arsenal nuclear. Em artigo recente no jornal The Wall Street Journal, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger escreveu que a solução do problema depende de uma convergência dos interesses estratégicos da China e dos EUA, que não querem uma corrida armamentista nuclear na região mais dinâmica da economia mundia
O problema é que, sem as armas, o regime stalinista de Pionguiangue cai, prevê Kissinger. Então, seria necessário um acordo sobre o futuro da Coreia do Norte, se a China aceitaria a reunificação da Coreia, já que o Norte é um Estado-tampão que a afasta da Coreia do Sul, onde os EUA mantêm 28 mil soldados com mandato do Conselho de Segurança da ONU para reunificar a Coreia.
Na época do início da Guerra da Coreia, em 1950, a URSS boicotava a ONU porque a China comunista era excluída. Quando os EUA cruzaram o paralelo 38 Norte, o IV Exército da China, comandado por Lin Piao (lembram do sucessor de Mao morto em acidente aéreo em 1969?) entrou na guerra.
Dentro da Guerra da Coreia, houve uma guerra entre EUA e China - e a China venceu. Conseguiu empurrar os americanos para baixo do paralelo 38º N, alcançando seu objetivo estratégico de manter o status quo anterior à guerra. Essa história está contada no livro China crosses the Yalu River. Tem também um livro escrito por autor asiático e Mao, Stalin and the Korean War.
Agora, a China anunciou sua posição: se os norte-coreanos atacarem, fica neutra; se os EUA ou a Coreia do Norte atacarem, vai defender a Coreia do Norte, como em 1950.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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