A fraqueza intelectual e a falta de experiência da governadora do Alasca, Sarah Palin, ficaram evidentes na sua primeira grande entrevista desde que foi indicada candidata à Vice-Presidência dos Estados Unidos daqui a 51 dias.
Assim, uma possível explicação para seu sucesso é que o eleitorado branco de classe média descontente com o candidato do Partido Republicano, senador John McCain, precisava de uma boa desculpa para ficar contra o senador mulato Barack Obama, candidato do Partido Democrata, que pode ser o primeiro afrodescendente a chegar à Casa Branca.
Neste sentido, Sarah pode ser considerada a "grande esperança branca", como observou o colunista Mario Diment no jornal argentino La Nación.
O colunista parte da história de Jack Johnson, o primeiro negro a se sagrar campeão mundial de boxe na categoria peso-pesado, em 1908. Antes, os negros eram proibidos de competir nessa categoria.
Imediatamente, os americanos racistas passaram a procurar um lutador capaz de restaurar a supremacia. Depois de vários fracassos, o ex-campeão Tim Jeffries, que se aposentara sem derrotas, foi convencido a voltar ao ringue como a grande esperança branca. Seus segundos jogaram a tolha no final da luta, depois de duas quedas, para evitar um humilhante nocaute.
Agora, é a vez de Sarah Palin.
Numa descarada manipulação da realidade, Obama, filho de um pai africano que o abandonou e de uma mãe americana pobre, é apresentado pela propaganda republicana como um privilegiado que estudou numa universidade de elite, Harvard, como se não tivesse chegado lá por seus próprios méritos.
Por outro lado, Sarah Palin é pintada como a defensora dos valores tradicionais de deus, pátria e família, a mãe de cinco filhos que equilibra trabalho e vida pessoal, a evangélica que adora armas de fogo e acredita que deus está do lado dos soldados americanos em guerra. O objetivo é fazer com que as mães americanas de classe média baixa ou pobres, as mães do Wal-Mart, a rede de supermercados que compete com preços baixos.
É a glorificação da inexperiência e do antiintelectualismo como estratégia para ganhar eleições. Não é muito diferente do que fizeram os presidentes George Walker Bush e Luiz Inácio Lula da Silva na sua irresistível ascensão.
Lula nasceu pobre, realmente lutou para vencer na vida e fez carreira política num partido de esquerda. Isso lhe dá uma empatia natural com os excluídos que são uma parcela importante da sociedade brasileira.
Suas políticas sociais e a manutenção da política macroeconômica dos governos de Fernando Henrique Cardoso melhoraram a vida das camadas mais pobres da população, o que se traduz nas pesquisas de opinião.
Bush e Palin são conservadores que prometem cortes de impostos para os ricos e acusam os democratas de planejar aumentos de impostos para todos. Como prefeita e governadora do Alasca, ela lutou por 200 emendas parlamentares ao orçamento para ganhar dinheiro público. Seu partido a apresenta como uma rebelde que vai desafiar a burocracia de Washington.
Dentro desta estratégia de iludir o eleitorado, mentindo como Bush mentiu ao justificar a guerra do Iraque, em seu discurso de aceitação da candidatura, o senador McCain disse com falsa ironia que não via a hora de "apresentá-la a Washington". Falava como se a mulher que se descreveu como "um pitbull de batom" não fosse conhecedora dos lobbies e corredores escuros da capital americana que levam à liberação de verbas do Tesouro dos EUA.
Por ironia e falsidade, a burocracia de Washington é um dos alvos favoritos das campanhas eleitorais nos EUA, como se os principais candidatos e os grandes partidos que os representam não fossem frutos desse sistema político. No caso do Partido Republicano, é uma jogada para fazer campanha posando de oposição.
Mas o pior de tudo é o culto da ignorância e do despreparo como virtude, como se bastante o conceito religioso de "missão" para saber o que é certo ou errado nos negócios de Estado.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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