A Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico vota nesta quinta-feira um adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia, marcada para 29 de março. Hoje, em novo capítulo do drama, por 312 a 308, os deputados rejeitaram uma saída dura, sem acordo com os outros 27 países-membros do bloco europeu, em qualquer circunstância.
Se a ruptura total defendida pela ala mais à direita e antieuropeia do Partido Conservador está descartada, sem acordo, não haverá Brexit. A saída da UE está prorrogada indefinidamente, dependendo da concordância dos outros 27, insatisfeitos com a hesitação britânica e a incerteza que provoca em toda a Europa.
O Parlamento Britânico não consegue formar uma maioria para aprovar qualquer projeto de saída da UE. A melhor saída seria uma nova consulta popular para o eleitorado decidir se aprova o acordo negociado com a UE ou anula o resultado do plebiscito de 23 de junho de 2016.
Quando votaram para sair da UE, os eleitores ouviram promessas que não se materializaram, como um grande aumento do orçamento para o Serviço Nacional de Saúde (NHS) e acordos comerciais livres de amarras o resto do mundo.
A economia britânica era das mais que cresciam entre os países ricos. Hoje está perto da estagnação. Então, a saída mais democrática seria submeter o acordo final do divórcio da Europa a um referendo.
Totalmente dividido, o Partido Conservador, que realizou o plebiscito, não admite convocar uma segunda consulta popular. Na oposição, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, anunciou semanas atrás apoio a um novo plebiscito. Mas sua relação com a Europa é ambígua.
Como esquerdista radical, Corbyn sempre considerou a UE um clube capitalista. Na campanha para o plebiscito de 2016, ele não alinhou claramente os trabalhistas aos defensores de ficar na UE. O partido se dividiu e várias regiões industriais decadentes que historicamente apoiam o Partido Trabalhista votaram para sair do bloco europeu.
Depois da segunda derrota do acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May com a UE, o líder da oposição está mais interessado na queda do governo e na antecipação das eleições. No momento, Corbyn e os trabalhistas são favoritos.
A ala mais extremista do Partido Conservador tentou derrubar May com um desafio à sua liderança. Perdeu, mas está em revolta permanente contra o governo para defender a saída a qualquer preço. O risco de divisão do partido que mais tempo ficou no poder na democracia no mundo inteiro é enorme. Se não houver Brexit (do inglês, saída britânica), a ruptura será inevitável.
Depois de uma derrota 391 a 242 em 12 de março, May pretende reapresentar seu acordo com a UE pela terceira vez para votação pelos deputados. Tenta pressionar os extremistas do partido a aderir. O adiamento sem prazo traz o risco de que a saída não aconteça.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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