O acordo para acabar com uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China enfrenta obstáculos que adiam a marcação de um encontro de cúpula entre o presidente Donald Trump e o ditador Xi Jinping. Por exigência dos chineses, eles só devem se reunir quando tiverem um documento para assinar.
Há duas semanas, o acordo parecia bem encaminhado. Depois do fracasso da reunião de cúpula entre o presidente Donald Trump e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, a situação mudou. Trump abandonou as negociações de desnuclearização em Hanói, no Vietnã, quando Kim não se comprometeu a fazer um inventário do arsenal nuclear norte-coreana.
A China teme que Trump use a mesma tática de negociação, pressionando Xi na última hora com ultimatos do tipo pegar ou largar no encontro de cúpula a ser realizado no hotel e clube de golfe do presidente americano em Mar-a-Lago, na Flórida.
Agora, a China quer que o encontro seja apenas uma cerimônia para assinatura do acordo. Não aceita que seja mais uma rodada de negociações, a última e definitiva. Xi não pretende correr o risco de se expor a manobras inesperadas de Trump.
"O que os ministros chineses querem dizer é 'sim, Xi Jinping vai aos EUA para uma visita de Estado e esperamos que Trump não envergonhe vocês'", comentou o professor Evan Medeiros, especialista em China da Universidade Georgetown e ex-assessor do presidente Barack Obama.
Para o embaixador americano em Beijim, Terry Branstad, "o acordo está praticamente acertado, talvez faltem os toques finais, os últimos pontos a serem resolvidos pelos dois líderes, que tem uma boa química entre si".
A proposta inicial era realizar o encontro Trump-Xi em 27 de março. Em visita do vice-primeiro-ministro Liu He à Casa Branca durante uma rodada de negociações em Washington, o presidente e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, pressionaram os chineses a manter a cúpula de Mar-a-Lago. A China resiste.
O governo Trump ameaçava aumentar em 2 de março de 10% para 25% as tarifas de importação sobre produtos comprados pelos EUA da China num valor anual de US$ 200 bilhões. Trump previu um salto nas bolsas de valores se houver um acordo entre as duas maiores economias, mas fez uma ressalva: "Se não for um grande acordo, não vamos fazer."
Esta incerteza e a imprevisibilidade do presidente dos EUA levam os chineses a querer preservar o líder supremo do partido e do governo de um fracasso espetacular no estilo Trump.
Até agora, a China concordou em comprar mais produtos agrícolas e de energia dos EUA, dar mais acesso a investidores americanos a setores do mercado chinês como finanças e automóveis, e aumentar a proteção sobre a propriedade intelectual.
Outras questões estão em aberto, como os subsídios chineses a setores de alta tecnologia e a manipulação do câmbio, que Beijim considera assuntos internos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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