A primeira-ministra Theresa May assinou a carta que será entregue hoje em Bruxelas ao presidente do Conselho Europeu, o ex-primeiro-ministro polonês Donald Tusk, dando início ao processo formal de saída do Reino Unido da União Europeia, noticiou a televisão pública britânica.
As negociações da Brexit (British exit = saída britânica, em inglês) devem durar pelo menos dois anos. May pretende negociar um acordo de livre comércio. Será difícil. O mercado único europeu, na verdade mercado comum, tem como regra básica a livre circulação de capitais, mercadorias e pessoas.
Para não comprometer o processo de integração do continente, abalado por múltiplas crises, da periferia da Zona do Euro, dos refugiados, do terrorismo, do avanço da extrema direita, os líderes da UE pretendem jogar duro, a começar pela Alemanha, como indicaram a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel e o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.
Se não querem uma Europa à la carte, onde cada país escolhe os aspectos da integração que lhe interessem, os líderes europeus tendem a cobrar um preço elevado pela saída do Reino Unido, a primeira desde a assinatura do Tratado de Roma, que criou a Comunidade Econômica Europeia, em 1957.
O primeiro-ministro Winston Churchill previu depois da guerra a provável formação de uma espécie de Estados Unidos da Europa, mas o Reino Unido ficou fora do grupo inicial de seis países fundadores da CEE. Em 1963 e 1967, o presidente da França, Charles de Gaulle, vetou o ingresso do Reino Unido.
Em 1973, depois da queda de De Gaulle, em 1969, em consequência da Revolução dos Estudantes, em maio de 1968, finalmente o Reino Unido entrou para o mercado comum europeu durante o governo conservador de Edward Heath.
A oposição trabalhista era contra a adesão à CEE. Com a vitória de Harold Wilson nas eleições de 1974, foi convocado um plebiscito. Em 1975, os britânicos votaram a favor de se integrar à Europa, mas a insularidade do país sempre alimentou a ideia de separação.
O antieuropeísmo tornou-se uma tendência dominante no Partido Conservador no fim do governo Margaret Thatcher (1979-90). Como primeira-ministra, Thatcher exigiu uma devolução de parte do dinheiro que o Reino Unido dava ao orçamento da UE, sob a alegação de que o país recebia muito menos subsídios da política agrícola comum do que a Alemanha e a França. E lutou para evitar uma transferência maior de poderes para Bruxelas.
Thatcher resistiu à ideia de "uma união cada vez maior" e à união monetária europeia. Foi derrubada por seu ex-ministro Michael Heseltine, da ala europeísta do partido. O regicídio da grande líder dividiu o partido irremediavelmente, criando uma ala ferozmente antieuropeia.
Quando convocou o plebiscito de 23 de junho de 2016, o então primeiro-ministro David Cameron pretendia pacificar o Partido Conservador. Foi o maior erro político de sua até então bem-sucedida carreira. Com a vitória do não por 52% a 48%, o Reino Unido deixa seu maior mercado e começa um futuro incerto. Não tem muito a ganhar com a Brexit.
Ontem, o Parlamento da Escócia aprovou a realização de novo plebiscito sobre a independência. Há três, os escoceses optaram por continuar no Reino Unido por 55% a 45%, mas, no ano passado, 62% votaram a favor de manter o país na UE. Se o Reino Unido deixar o mercado comum europeu, é provável que a Escócia aprove a independência.
A consulta popular depende da aprovação do Parlamento Britânico, que só deve discutir a questão quando os termos do divórcio com a Europa estiverem definidos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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