O senador Barack Obama é o franco favorito para se tornar hoje o primeiro negro a conquistar a Presidência dos Estados Unidos, um país que nos 60 ainda vivia sob um regime de segragação racial nos estados do Sul.
As pesquisas precisam estar muito erradas para não dar Obama, e não é essa a tradição americana. Em 1948, a vitória do presidente Harry Truman sobre John Dewey foi uma surpresa, mas os institutos de pesquisa evoluíram desde aquela época. Temos perfis dos candidatos, os desafios do próximo presidente, o mapa eleitoral.
Em alguns estados do Leste, a votação termina às 21h30 pelo horário de verão em Brasília. Talvez saia algum resultado, mas não tem a menor chance de matar a charada.
Uma hora depois, a votação estará encerrada em toda o Leste, incluindo Flórida, Virgínia, Pensilvânia, Ohio e Carolina do Norte. Ainda assim, se a disputa for apertada, a expectativa pode se estender pela madrugada, como aconteceu com a Flórida em 2000, que acabou no tapetão. Se for uma avalanche, o resultado sai cedo.
Confira aqui o mapa eleitoral com a distribuição de votos por estado no Colégio Eleitoral.
É um momento histórico. Há um ano, quem iria imaginar que um negro poderia ser eleito presidente dos EUA? Num país com o passado segregacionista como os EUA, é uma revolução. É uma vitória póstuma do reverendo Martin Luther King jr.
No seu famoso discurso Eu Tenho um Sonho, Luther King disse que sonhava que "um dia meus filhos não serão julgados pela cor de sua pela mas pela nobreza de seu caráter". Para a população negra americana, esse dia chegou. É uma redenção.
Leia no jornal francês Le Monde algumas questões importantes para entender melhor esta eleição histórica.
Em tese, Obama será também o presidente dos EUA mais à esquerda desde John Kennedy (1961-63), um liberal da Nova Inglaterra.
Seu vice e sucessor Lyndon Johnson (1963-69), era um fazendeiro do Texas, que na época votava nos democratas. Seguiram-no os republicanos Richard Nixon, arquiconservador, e Gerald Ford, um moderado.
O próximo presidente democrata, Jimmy Carter (1977-81) era um fazendeiro de amendoin na Geórgia. Estava longe de ser um revolucionário.
Veio a era do ultraconservador Ronald Reagan (1981-89) seguido pelo pragmático George Bush, sr. (1989-93).
Em 1992, com Bill Clinton (1993-2001), governador de um estado atrasado do Sul, os democratas retomaram a Casa Branca. Ele fez chapa com Al Gore, outro político conservador e sulista dentro do Partido Democrata.
Era uma chapa Sul-Sul, contrariando a regra de escolher um do Sul e um do Norte, a velha divisão do país da Guerra da Secessão (1861-65), a pior guerra da História dos EUA. Aliás, a Guerra do Iraque já é mais longa do que a guerra civil americana e do que a participação dos EUA na Segunda Guerra Mundial.
Da eleição de Ronald Reagan para cá, a divisão foi mais entre os estados cosmopolitas da Nova Inglaterra, da Costa Oeste e da região dos Grandes Lagos, na fronteira com o Canadá, que votam nos democratas, em contraposição à América Profunda, autocentrada e ignorante do resto do mundo, a turma que a gente vê de chapéu de vaqueiro nos comícios do McCain.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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