sábado, 29 de novembro de 2008

Terror em Mumbai matou 195 pessoas

Os combates cessaram mas a Índia ainda avalia as dimensões morais, políticas e econômicas da onda terrorista de 26 de novembro de 2008 contra sua maior e mais rica cidade, Mumbai, a antiga Bombaim.

Hoje o jornal The New York Times revela que os serviços secretos dos Estados Unidos suspeitam do grupo extremista muçulmano Lashkar-e-Taiba, que luta para que a Caxemira pertença ao Paquistão, ou de outra organização radical islamita envolvida na questão da Caxemira, Jaish-e-Muhammad.

Só um terrorista teria sido capturado vivo, um jovem do Punjab paquistanês. Pelas imagens obtidas, eram todos jovens com pouco mais de vinte anos. Estavam extremamente bem treinados e organizados. Teriam chegado num barco pesqueiro e lanchas rápidas no Sul de Mumbai, atacando em 10 lugares diferentes da cidade, entre eles dois hotéis de luxo, a estação ferroviária central, um hospital, um café e restaurante freqüentado por turistas estrangeiros e um centro cultural judaico.

O serviço de inteligência militar da Índia disse que os terroristas tinham um telefone de satélite e falaram com o líder do grupo Lashkar-e-Taiba.

Se realmente forem de um grupo baseado na Caxemira, a ira da Índia contra o Paquistão tende a aumentar. Em 2004, o então ditador Pervez Musharraf, se comprometera a desmantelar os centros de treinamento de grupos armados irregulares no Paquistão. O presidente Assif Ali Zardari renovou a promessa em discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas deste ano.

A Caxemira é uma questão sagrada na identidade nacional paquistanesa. Com maioria muçulmana, deveria pertencer ao Paquistão. Juntou-se à Índia quando ambos ficaram independentes do Império Britânico, em 1947, por decisão do marajá Hari Singh, governador da região na época. Provocou uma reação imediata do Paquistão e uma guerra entre os dois países.

Eles travariam nova guerra pela Caxemira em 1962 e em 1971, a guerra da independência de Bangladesh, o antigo Paquistão Oriental. Desde que fizeram a bomba atômica, a Índia em 1974 e o Paquistão no ano seguinte com a ajuda da China, houve vários conflitos de fronteiras e há um estado de guerra nas montanhas geladas do Himalaia. Nunca mais houve guerra aberta entre Índia e Paquistão.

Desde 1989, há uma guerrilha muçulmana que luta contra o domínio da Índia sobre a Caxemira, com o apoio paquistanês. Se esses grupos treinaram e armaram os terroristas do ataque a Mumbai, a tensão entre os dois países vai subir muito.

Em maio de 1998, os dois países testaram armas nucleares, entrando definitivamente para o clube atômico. Os Estados Unidos impuseram sanções, mas logo perceberam a importância de fazer uma aliança estratégica e um acordo nuclear com a Índia, uma superpotência econômica e militar em ascensão, além de ser inimiga histórica da China.

Esse acordo recentemente ratificado pelos parlamentos dos EUA e da Índia é mais uma justificativa para que os jihadistas declarem guerra à Índia, sem esquecer do conflito histórico entre hindus e muçulmanos, acirrado pelos governos do partido nacionalista hindu BJP (Partido Bharatiya Janata), que tinha o compromisso eleitoral de detonar a bomba atômica e o cumpriu. Mas o Paquistão fez o mesmo em seguida.

Os atentados de 11 de setembro aproximaram os EUA do Paquistão, país central na guerra contra o terrorismo dos fundamentalistas muçulmanos. É o único país islâmico com armas nucleares e é vizinho do Afeganistão, onde o regime fundamentalista da milícia dos Talebã (Estudantes) abrigava os centros de treinamento da rede terrorista Al Caeda, com o apoio do serviço secreto paquistanês.

Desde as primeiras reações ao ataque terrorista em Mumbai, o governo indiano apontou para o vizinho e inimigo histórico. Mas o Paquistão é um Estado em virtual colapso. Não consegue controlar todo o seu território.

Em 20 de setembro, o atual governo civil foi alvo do terrorismo islâmico no atentado contra o Hotel Marriott de Islamabad. O presidente é viúvo da principal líder política da história recente do país, Benazir Bhutto, assassinada em um atentado terrorista em 27 de dezembro de 2007.

Se ficar comprovado que foram grupos da Caxemira que atacaram Mumbai, a Índia vai exigir do Paquistão o desmantelamento dos centros de treinamento em território paquistanês. O problema é que, sem condições de retomar a Caxemira à força, o Exército do Paquistão, que é quem detém o poder de fato, apóia esses grupos armados.

É uma jogada do Paquistão para pressionar a Índia a cumprir um antigo compromisso assumido perante as Nações Unidas de realizar um plebiscito na Caxemira, de maioria muçulmana.

As relações indo-paquistanesas viviam seu melhor momento. Há uma semana, o presidente Zardari prometeu não lançar um primeiro ataque nuclear. Isso não interessa aos jihadistas.

Numa tentativa de se eximir de culpa, o Paquistão se ofereceu para mandar o chefe de seu serviço secreto militar participar da investigação. A oposição nacionalista hindu da Índia descreveu a ajuda como uma confissão de culpa.

O frágil governo civil paquistanês quer cooperar na guerra contra o terrorismo internacional, que abre nova frente de luta na Índia, alvo freqüente de atentados, inclusive de extremistas muçulmanos. Mas até agora nenhum tinha tido tamanho impacto, paralisando o centro econômico da Índia por três dias.

A questão é até onde vai o poder civil no Paquistão. Uma ala das Forças Armadas paquistanesas é suspeita de apoiar os Talebã para manter uma zona de influência no Afeganistão. É nessa área que se concentram os líderes em fuga d'al Caeda e dos Talebã, o grande centro de treinamento do jihadismo.

Tanto a Índia quanto os EUA gostariam de aproveitar a oportunidade para dar um xeque-mate no Paquistão e exigir um ataque decisivo contra as bases terroristas instaladas nas regiões tribais do Noroeste do país. Mas precisam evitar o agravamento da caótica situação do único país muçulmano com a bomba atômica, tudo o que os terroristas mais sonham para lançar um atentado ainda maior do que os de 11 de setembro de 2001.

Em entrevista divulgada há dois dias, o lugar-tenente de Ossama ben Laden, o vice-líder d'al Caeda, o médico Ayman al-Zawahiri, considerado o estrategista do grupo, atribuiu a crise financeira global aos atentados de 11 de setembro, a grande glória de sua turma. Os atentados levaram o banco central dos EUA a baixar os juros e dar dinheiro de graça aos bancos e instituições financeiras, o que gerou uma bolha especulativa.

A causa da crise não foi o 11 de Setembro em si, mas os erros de política monetária de Alan Greenspan e sua equipe em decorrência do terror e do estouro da bolha da internet, somados à falta de regulamentação do setor financeiro, que levou as empresas a correrem riscos arrasadores.

Mesmo assim, o discurso delirante e paranóico de Zawahiri indica que o terror busca alvos fracos para matar em massa. Centros financeiros, como Nova Iorque em 2001 e Mumbai em 2008, são alvos preferenciais de sua guerra santa.

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