Bobby Fischer, o único americano a se tornar campeão mundial de xadrez, ao derrotar o soviético Boris Spassky numa batalha épica durante a Guerra Fria, morreu hoje aos 64 anos no exílio, em Reikjavik, na Islândia, onde a final foi disputada, em 1972.
Há semanas circulavam na internet rumores de que o Mozart do Xadrez estava mal. A rádio nacional da Islândia informou apenas que ele morreu de uma grave doença.
Arrogante e auto-suficiente, Fischer evoluiu de menino-prodígio a herói nacional, mas estava sujeito a prisão nos Estados Unidos por violar as sanções internacionais contra a antiga Iugoslávia ao jogar xadrez com Spassky lá, em 1992.
O ex-campeão mundial Garry Kasparov exaltou Fischer como "o pioneiro e o pai do xadrez profissional".
Kasparov recorda-se do quanto aprendeu assistindo à final de 1972: "Fischer era novo e criativo, então todos crescemos sob forte influência das vitórias de Fischer", declarou o ex-campeão à TV inglesa Sky News.
"Do ponto de vista ideológico, era a luta de um indivíduo contra um sistema totalitário", comentou Kasparov. "Ele tinha torcida na União Soviética. Ninguém via um americano lutando contra os soviéticos. Era mais um grande homem lutando contra uma máquina poderosa".
Fischer foi campeão juvenil dos EUA aos 13 anos e campeão nacional aos 14, retendo seu título contra quem ousasse desafiá-lo. Aos 15, tornou-se grão-mestre. Chegou a derrotar 21 grandes mestres em seqüência.
Com o sucesso espetacular, apareceram também suas excentricidades, seu comportamento imprevisível. Fischer abandonava torneio por problemas com a iluminação ou o ar condicionado, e negava-se a jogar no sábado, dia religioso dos judaico.
Nos anos 60, Fischer se retirou de dois campeonatos mundiais por entender que as regras favoreciam os soviéticos. Pegou sua vasta biblioteca sobre xadrez e foi para a Califórnia estudar. Voltou em 1972 para atingir a glória.
Jamais colocou seu título em jogo. Certa vez, lhe perguntaram quem era o melhor enxadrista do mundo: "É bom ser modesto, mas seria uma tolice não dizer a verdade. É Fischer".
Depois da partida na Iugoslávia em 1992, onde ganhou US$ 3 milhões, Fischer desapareceu. Ressurgiu em 11 de setembro de 2001. Em entrevista a uma rádio das Filipinas, elogiou os atentados terroristas.
No final dos anos 90, ele teria sido visto hospedado em hotéis baratos de Pasadena, na Grande Los Angeles. Sobreviveria com os direitos autorais de seus livros.
Em 2005, ele obteve a cidadania islandesa. Morreu em Reikjavik, a cidade onde viveu sua maior glória.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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