O fundador da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Georges Habache, morreu hoje aos 81 anos em Amã, na Jordânia, onde vivia desde 1992. Ele deixara a liderança da FPLP em 2000, depois de 30 anos.
Médico, palestino e cristão, formado na Universidade Americana de Beirute, no Líbano, ele abandonou a profissão para se dedicar a uma luta sem trégua contra a ocupação de Israel e seus aliados ocidentais, marcada sobretudo por seqüestros aéreos.
Habache sempre foi o líder e a face da "frente de rejeição", que recusava qualquer acordo ou concessão. Revoltado com a derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, declarou-se marxista e passou a pregar uma "guerra popular" e uma revolução no mundo árabe, atribuindo seu anticomunismo do passado a suas "origens burguesas" e sua cultura anglo-saxã.
Filho de uma família de comerciantes gregos ortodoxos, Habache nasceu em Lida, em 1926, 22 anos antes da criação do Estado de Israel. Ele viu a expulsão dos moradores árabes da cidade, inclusive parentes seus.
Chocado, ele iniciou sua militância na universidade, onde fundou o Movimento dos Nacionalistas Árabes. Em 1952, foi para Amã, onde fundou uma escola para refugiados palestinos e uma clínica.
Com a decretação de lei marcial na Jordânia em abril de 1957, Habache foi para a clandestinidade. Por causa de diversos atentados atribuídos ao MNA, foi condenado a 32 anos de reclusão.
A criação da República Árabe Unida, reunindo Egito e Síria, em 1958, sob a inspiração do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, o atrai para Damasco, a capital síria.
Desde a guerra de 1967, seu ativismo concentrou-se na luta pela libertação da palestina. Em dezembro daquele ano, de volta à Síria, Habache criou a FPLP, unindo os Heróis do Retorno, a Juventude da Vingança e a Frente de Libertação da Palestina chefiada por Ahmed Jibril.
Radical, ele se afastou dos governo árabes e até mesmo de Nasser, quando o presidente egípcio aceitou um plano de desengajamento dos Estados Unidos, e produziu algumas de suas frases mais famosas: "O caminho para Telavive passa por Amã e Beirute" e "A causa palestina tem necessidade, para triunfar, de uma Hanói árabe", pregando a derrubada dos regimes árabes, que considerava coniventes com Israel.
Depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973, Habache se afastou da direção da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em junho de 1974, ameaçando dividir o movimento se Yasser Arafat concordasse com a realização de uma conferência de paz em Genebra, na Suíça.
Em 1974, Habache foi acusado pela União Soviética de ser um "pseudo-revolucionário". Foi reabilitado em 1979, ao aceitar a fórmula de dois países, um palestino e um judaico, convivendo lado a lado no território histórico da Palestina, e a "solução provisória" proposta por Arafat.
A Guerra Civil no Líbano (1975-90) e a intervenção síria reduziram o poder de barganha de Habache dentro da OLP. O movimento palestino foi se tornando mais moderado até renunciar a luta armada e reconhecer o direito de existência de Israel, em 1988. Habache protestou mas evitou a ruptura. Teria a mesma atitude em 1991, quando foi realizada a conferência de paz de Madri.
Mas, em 1987, nascia o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que tomaria de Habache o manto do radicalismo.
Entre as ações terroristas que lhe são atribuídas por Israel, estão um atentado contra o aeroporto de Lod e Telavive cometido em 1972 por três terroristas japoneses, com 26 mortos; um ataque contra os passageiros da companhia aérea israelense El Al no aeroporto de Orly, em Paris, que causou duas mortes; e o atentado contra a sinagoga da Rua Copernic, também em Paris, em 1980, responsável por duas mortes e ferimentos em outras 70 pessoas.
Habache também foi acusado pelo assassinato de palestinos moderados que considerava "colaboradores" de Israel nos territórios ocupados, como o prefeito de Nablus, Zafer el Masri, em 1986.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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