Quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, falou por telefone com a presidente da Taiwan, Tsai Ing-wen, alegou que havia apenas atendido a uma chamada para cumprimentá-lo pela vitória. Na realidade, foi uma provocação intencional para mostrar dureza no relacionamente com o a China, revelou hoje o jornal The Washington Post.
Os presidentes dos dois países não se falavam desde 1979, quando os EUA romperam com Taiwan, uma exigência da República Popular da China para o estabelecimento de relações bilaterais. Washington aceitou assim a política chinesa de que só existe uma China, representada pelo regime comunista de Beijim.
No domingo, Trump voltou ao ataque, acusando a China de manipular o câmbio e de intimidar os países vizinhos com sua reivindicação territorial sobre 90% do Mar do Sul da China.
O telefonema histórico foi consequência de meses de preparação. A equipe de Trump buscava uma nova estratégia para o relacionamento com Taiwan antes mesmo do magnata imobiliário garantir a candidatura do Partido Republicano à Casa Branca.
A jogada reflete também a visão de assessores linha-dura que defendem atitudes mais firmes contra o que consideram abusos de poder da superpotência em ascensão. No seu estilo negocial da fazer política, Trump ataca e tenta desestabilizar a outra parte para depois fazer um jogo de sedução e apresentar suas propostas.
Alguns membros da equipe de transição de Trump são a favor de posições mais duras em relação à China e mais amigável com Taiwan, inclusive o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Reince Priebus. Em artigo para a revista Foreign Affairs intitulado Visão de Donald Trump de Paz através da Força na Ásia e no Pacífico, dois assessores do presidente eleito, Peter Navarro e Alexander Gray, descrevem Taiwan como um "farol da democracia" na Ásia.
A ilha que a China considera uma província rebelde é apresentada como "o aliado dos EUA mais vulnerável militarmente no mundo inteiro".
Logo depois da vitória de Trump, seus assessores fizeram uma lista de líderes mundiais com quem ele falaria ao telefone. "Taiwan sempre esteve no topo da lista", declarou Stephen Yates, assessor do governo George W. Bush (2001-9).
Diante das tentativas da equipe de Trump, inclusive do vice-presidente Mike Pence, de dizer que a ligação partiu de Taipé, Alex Huang, porta-voz da presidente Tsai, declarou à agência Reuters que "é claro que os dois lados chegaram a um acordo antes do contato telefônico."
Com a provocação, Trump quis deixar claro aos chineses que nada será como antes. Os chineses reagiram com cautela, seguindo um antigo provérbio que diz: "Como resistir a um milhão de mudanças? Continuando a ser quem você é."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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