quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Reação do Brasil à espionagem é ingênua e inócua

É óbvio que a megaespionagem dos Estados Unidos é ilegal e um desrespeito à soberania nacional do Brasil e de tantos outros países. Mas, entre tantas outras coisas indesejáveis, como a guerra, faz parte do sistema internacional de forma institucionalizada, ainda que clandestina, de fazer política externa pelo menos desde o cardeal de Richelieu, primeiro-ministro da França de 1624 a 1642, que articulou a golpe para a restauração da monarquia em Portugal e o fim do Domínio Espanhol, em 1640.

Todas as potências fazem isso, o que é evidente nas frequentes acusações mútuas entre EUA e China. É uma questão de poder e de capacidade tecnológica. Na ONU, por exemplo, é praxe que os cinco grandes do Conselho de Segurança espionem o gabinete do secretário-geral.

Se o Brasil está sendo espionado, é por que se tornou um país importante e é evidente que a espionagem não se limita ao combate antiterrorismo. Estende-se a outros assuntos de interesse dos EUA, como relações com países inimigos de Washington como o Irã e Cuba e, é claro, a economia.

Sem Forças Armadas poderosas nem armas nucleares, o Brasil é uma potência herbívora. Sua importância deriva do peso de sua economia. Em relação ao grupo de potências econômicas emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a maior preocupação dos EUA é que parem de usar o dólar nas ruas relações comerciais. 

São grandes questão que estão em jogo, além do terrorismo, evidentemente. Os terroristas sempre procuram os pontos mais vulneráveis. Se o Brasil  não tem problemas com terrorismo, não significa que não possa ser usado para ataques como o de militantes palestinos contra atletas de Israel na Olimpíada de Munique, na Alemanha, em 1972. Ninguém vai baixar a guarda.

Como se combate a espionagem? Com contraespionagem, mas o governo Dilma Rousseff cortou o orçamento do Ministério da Defesa, ignorando a guerra cibernética. No fundo, é disso que se trata, capacitar o país para enfrentar os desafios do futuro. 

É mais fácil discursar ao vento e fazer um discurso inócuo, sem consequências práticas como aquele sobre a Responsabilidade ao Proteger, uma resposta à intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no conflito na Líbia, repudiada por China e Rússia com o apoio do Brasil. Se o Brasil não aceita o direito de intervenção por razões humanitárias, insistindo na solução pacífica de todos os conflitos, a "responsabilidade ao proteger" perde o sentido. Afinal, ninguém está sendo protegido.

Como não há ninguém protegendo a população civil da Síria, onde mais de 100 mil pessoas foram mortas em dois anos e meio, a responsabilidade de proteger está sendo ignorada e o conceito de "responsabilidade ao proteger", como tantas ideias deste governo, não saiu do papel.

A proposta de criar um marco civil internacional para a Internet dentro do sistema ONU, através da União Internacional de Telecomunicações (UIT), já está sendo discutida para tirar o controle da rede dos EUA. Traz o risco de colocar a Internet sob o controle das potências do Conselho de Segurança, inclusive da China e da Rússia, que, como não são democracias, têm interesse em censurar a rede.

Se Dilma quisesse mesmo manifestar sua indignação, além de transferir uma visita de Estado que não resultaria em nenhum acordo importante, poderia ter chamado embaixador em Washington para rebaixar o nível das relações diplomáticas com os EUA e expulsado diplomatas dos EUA.

Se não fez nada disso, nem aumentou a verba do orçamento de Defesa para contraespionagem e guerra cibernática, é claro que Dilma falou para a plateia, para o Terceiro Mundo e para o eleitorado brasileiro, posando como uma mulher forte e decidida, que enfrenta o homem mais poderoso do mundo.

Outros aliados mais importantes dos EUA, como a Alemanha e a França, também foram espionados, inclusive a primeira-ministra Angela Merkel e o presidente François Hollande. Os cidadãos alemães ficaram indignados com a invasão de sua privacidade, no meio de uma campanha eleitoral.

O que fez Merkel? Deu uma resposta tecnológica. Mandou um helicóptero sobrevoar a embaixada dos EUA para tentar detectar equipamentos de escuta telefônica. Deixou claro que a Alemanha tem condições técnicas de entrar nesta guerra.

Hollande também protestou, mas está do lado dos EUA na tentativa de punir a ditadura de Bachar Assad pelo emprego de armas químicas na guerra civil da Síria. Trata o assunto como uma questão de Estado, e não como uma pinimba pessoal.

Assim caminha a Humanidade, mas Brasília só nas próximas eleições. Este é um país governado pelo marketing eleitoral.

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