Em mais um gesto para marcar distância de seu antecessor, o novo presidente do Irã, Hassan Rouhani, reconheceu a existência do Holocausto. Ao falar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o líder iraniano manifestou interesse em negociar nuclear com o Ocidente, mas nem ele nem o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, avançaram nas questões essenciais.
O Irã está submetido a rigorosas sanções econômicas, políticas e militares por causa da suspeita de que seu programa nuclear esteja desenvolvendo armas atômicas. Ignora a proibição de enriquecer urânio, imposta pelo Conselho de Segurança da ONU, e reluta em abrir suas instalações nucleares a inspeções internacionais, insistindo em que não quer fazer a bomba atômica, mas tem direito de usar tecnologia nuclear para fins pacíficos.
Em entrevista à televisão americana dentro de uma ofensiva de relações públicas para melhorar a imagem do regime fundamentalista iraniano Rouhani disse ser possível chegar a um acordo em três meses.
A delegação iraniana rejeitou um convite para um encontro entre os dois presidentes ou pelo menos um aperto de mão, alegando precisar de mais tempo para uma reunião desta natureza levar a resultados concretos.
Hoje, o secretário de Estado americano, John Kerry, se encontra com o ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif. Será o maior encontro de alto nível desde que os dois países romperam relações diplomáticas quando guardas revolucionários tomaram a embaixada americana em Teerã por 444 dias, de 4 de novembro de 1979 a 20 de janeiro de 1981.
Uma das razões do antiamericano é o folge de 1953 contra o primeiro-ministro nacionalista Mohamed Mossadegh, que estatizara o petróleo iraniano.
Assim, se o presidente do Irã não tem tempo nem para apertar a mão do presidente dos EUA durante a visita a Nova York, é improvável um acordo em aprenas três meses, como sugeriu Rouhani, sem dar sinais de que pode fazer o que as potências ocidentais e as resoluções do Conselho de Segurança exigem: o fim do enriquecimento de urânio e a abertura irrestrita das instalações nucleares iranianas a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O projeto da bomba atômica está sob o controle do Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aliatolá Ali Khamenei, e da Guarda Revolucionária. Rouhani precisa mostrar que pode extrair dos EUA e aliados algumas concessões, especialmente o fim das sanções que sufocam a economia do Irã, para ter o aval para negociar de fato. Talvez por isso tenha tanta pressa.
No passado, outro presidente moderado, Mohamed Khatami (1997-2005) tentou uma reaproximação com o Ocidente, mas não teve apoio do Supremo Líder.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário