sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Novo presidente da Argélia carece de legitimidade

Com 58% dos votos pela contagem oficial, o ex-primeiro-ministro Abdelmajid Tebboune foi eleito ontem presidente da Argélia numa eleição com participação de apenas 41% dos eleitores, a menor da história do maior país da África. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar por desconfiar do resultado oficial.

A Argélia é o país mais rico do Norte da África em renda média por habitante. Rica em petróleo, tem um sistema político controlado até hoje pela Frente de Libertação Nacional (FLN), que liderou a guerra da independência, de 1954 a 1962.

Esta eleição presidencial, realizada sob a pressão das ruas, não muda o equilíbrio de forças dentro do regime nem resolve os problemas econômicos. A Argélia enfrenta uma insatisfação sem precedentes dos jovens, oposicionistas e ativistas, que vão se unir para desafiar o novo governo.

Qualquer dos cinco candidatos autorizados a concorrer seria rejeitado pelo movimento de protesto Hirak, criado em 16 de fevereiro deste ano para lutar contra um quinto mandato para o presidente Abdelaziz Bouteflika, por causa de suas ligações com o regime. O movimento exige um novo processo eleitoral e medidas concretas de combate à corrupção.

Se os argelianos continuarem saindo às ruas, os militares e o governo interino terão de decidir se usam a força para dispersar as manifestações, o que evitaram nos últimos dez meses.

Tebboune cita a prisão de seu filho meses atrás para se apresentar como adversário do sistema político, mas é considerado próximo do comandante das Forças Armadas e homem-forte do regime, general Ahmed Gaid Salah.

Outro desafio do novo governo será recuperar a economia, abalada desde a forte baixa nos preços do petróleo a partir de junho de 2014. As exportações de gás e petróleo caíram 12,5% neste ano.

O presidente eleito prometeu na campanha aumentar os salários baixos e diminuir a carga de impostos para os mais pobres. Para recuperar a economia, vai precisar atrair investimentos e reformar o setor de energia. A abertura ao capital estrangeiro e a promessa de cortar 9% dos gastos públicos em 2020 devem provocar reações negativas.

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