O presidente do Afeganistão, Achraf Ghani Ahmadzai, foi reeleito com 50,64% dos votos contra 39,52% para o primeiro-ministro Abdullah Abdullah, de acordo com resultados preliminares das eleições de 28 de setembro divulgados hoje pela comissão eleitoral independente. O adversário não aceitou a derrota.
"Queremos dizer mais uma vez a nosso povo, a nossos partidários, à comissão eleitoral e aos nossos aliados internacionais que nossa equipe não aceitará os resultados desta votação fraudulenta se nossas demandas não foram levadas em conta", declarou um comunidade do comitê da campanha de Abdullah.
Em pronunciamento na televisão, o primeiro-ministro reiterou sua posição: "Infelizmente, a comissão eleitoral está próxima aos fraudadores. Não há nenhuma dúvida de que somos os vencedores desta eleição, com base nos verdadeiros votos do povo."
O anúncio oficial dos resultados estava previsto para 19 de outubro. Primeiro, foi adiado para 14 de novembro. Abdullah pediu a suspensão das apurações, mas não apresentou nenhum indício concreto de fraude. Sua campanha alega que cerca de 300 mil boletins de seções eleitorais validados pela comissão eleitoral apresentam problemas.
Ao defender o processo democrático, o embaixador dos Estados Unidos em Cabul, John Bass, argumentou que estes são resultados preliminares: "Faltam muitos passos ainda para o resultado final da eleição ser certificado para garantir que o povo afegão tenha confiança nos resultados.
O Afeganistão vive em guerra desde a invasão soviética de 1979, ferozmente combatida por uma guerrilha muçulmana apoiada pelos EUA, a Arábia Saudita, a China e o Paquistão. Dez anos mais tarde, depois das mortes de pelo menos 25 mil soldados, no Vietnã da União Soviética, o líder Mikhail Gorbachev ordenou a retirada.
Em 1992, os rebeldes muçulmanos derrubaram o governo fantoche de Mohamed, instalado no poder pela URSS. O país entrou num estado de anarquia, o que levou ao surgimento da milícia dos Talebã (Estudantes), formada por mulás e estudantes das escolas religiosas, as madrassas, em 1994.
Dois anos depois, os Talebã tomaram o poder em Cabul e deram refúgio à rede terrorista Al Caeda, liderada por Ossama ben Laden, que chegara ao país como um agente saudita para coordenar a resistência contra a invasão soviética.
Depois de atentados terroristas contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em agosto de 1998, o presidente Bill Clinton ordenou um bombardeio às bases da Caeda no Afeganistão. A reação viria nos atentados de 11 de setembro de 2001, que foram os primeiros ataques ao centro do poder nos EUA desde as guerras da independência contra o Império Britânico e deixaram quase 3 mil mortos.
Em 7 de outubro de 2001, os EUA começaram a bombardear o Afeganistão para em seguida invadir o país junto com seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que invocaram o artigo 5 da Carta da OTAN, que diz que um ataque contra um é um ataque contra todos.
O governo fundamentalista islâmico dos Talebã caiu em menos de um mês. Com a fuga de Ben Laden e de parte da liderança da Caeda depois da Batalha de Tora Bora, em dezembro de 2001, o governo George Walker Bush desviou o foco para o Iraque.
Dezoito anos depois, a Guerra do Afeganistão é a mais longa da história dos EUA, que tentam assinar um acordo de paz com os Talebã para se retirar com alguma honra, já que o governo criado pela invasão americana não se sustenta sem as forças internacionais.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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