domingo, 21 de março de 2010

Papa pede perdão por pedofilia na Irlanda

Numa carta pastoral que é o primeiro documento oficial do Vaticano admitindo o envolvimento da Igreja Católica em escândalos de pedofilia, o papa Bento XVI pediu perdão às vítimas de abusos sexuais cometidos e acobertados por representantes da Igreja, e ordenou uma investigação em todas as dioceses irlandesas acusadas.

A carta de oito páginas será lida neste domingo em todas as paróquias da Irlanda.  Mas as vítimas consideraram fraca a resposta oficial da Igreja, que só fala do problema na Irlanda, ignorando o papel do Vaticano no acobertamento dos crimes cometidos por padres, bispos e outros religiosos.

"Vocês sofreram muito e eu lamento profundamente", escreveu Bento XVI. "Expresso abertamente minha vergonha e meu remorso."

"Só posso compartilhar o horror e a sensação de traição que tantos devem ter experimentado ao saber desses atos pecaminosos e criminosos e a maneira como as autoridades da Igreja lidaram com eles na Irlanda", lamentou o Sumo Pontífice.

O catolicismo é um aspecto central da identidade nacional irlandesa. A Irlanda está em choque.

Em novembro de 2009, o Relatório Murphy concluiu que Igreja acobertou "obsessivamente"o abuso sexual de crianças na Arquidiocese de Dublin de 1975 a 2004.

Bento XVI admitiu que houve "graves erros de julgamento" e "um fracasso da liderança."

"Só uma ação decisiva realizada com total honestidade e transparência", prescreveu Sua Santidade, "será capaz de restaurar o respeito e a boa vontade do povo irlandês em relação à Igreja à qual consagraram suas vidas."

Ao distribuir o documento na Santa Sé, em Roma, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, teve de explicar a omissão de outros países onde há casos notórios de pedofilia, como a Áustria, a Holanda e a Alemanha, terra natal do cardeal Joseph Ratzinger.

Lombardi comentou que, como é a primeira vez que um papa aborda o abuso sexual de menores dentro da Igreja, o impacto deve ir muito além da Irlanda. Se for necessário, declarou que novas cartas serão escritas.

Para as vítimas, foi muito pouco: a Igreja pede perdão, fará seu próprio inquérito interno e pediu a colaboração de todos com as investigações criminais das autoridades irlandesas.

"Nenhum dos caminhos citados na carta leva a Roma", criticou Andrew Madden, uma das vítimas que agora lutam por justiça. "O papa não reconheceu o papel da hierarquia da Igreja Católica no acobertamento do abuso sexual de crianças.

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