terça-feira, 16 de março de 2010

Lula encontra processo de paz estagnado

O presidente Lula chegou a um Oriente Médio com um processo de paz estagnado, onde o governo Obama Barack acaba de ser humilhado. 

No dia em que o vice-presidente Joe Biden chegou a Israel, foi anunciada a construção de mais 1,6 mil moradias no setor oriental (árabe) de Jerusalém, onde o governo direitista usa uma política de fato consumado para consolidar a ocupação. Judeus ricos do mundo inteiro compram propriedades. Na quinta-feira passada, o jornal liberal israelense Haaretz falou em planos para mais 50 mil moradias.

Israel, sendo um fruto do Holocausto plantado numa terra hostil, aprendeu a não confiar em nada mais do que na sua própria força e de suas alianças para sobreviver. Quando o povo judeu precisou da sociedade internacional, durante a Segunda Guerra Mundial, o resto do mundo o ignorou.

Sem Estado, não há Exército. Sem Exército, o povo judeu quase foi exterminado. A segurança é o eterno dilema de Israel. Seria resolvido com a paz com os palestinos. 

Por isso, a direita israelense finalmente aceitou a contra-gosto as negociações, depois da Guerra do Golfo de 1991, quando, no mesmo ano, o presidente Goerge Bush, pai, organizou a Conferência de Madri, em 30 e 31 de outubro para lançar o processo de paz no Oriente Médio.

Mas o atual governo e o establishment israelense não estão preocupados com os palestinos, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) ou a milícia fundamentalista xiita Hesbolá , que não podem destruir Israel. A ameaça é programa nuclear do Irã.

O grande dilema hoje em Israel é atacar ou não atacar o Irã. Talvez seja tarde demais para parar o programa nuclear iraniano. Na semana passada, uma reportagem do jornal New York Times afirmava que o Irã tinha exposto um grande número de alvos, como se quisesse que fossem atacados.

Israel considera a questão iraniana uma ameaça à sua existência. Na semana passada, no Sul do Irã, Ahmadinejad, voltou a falar em aniquilar Israel e disse que a guerra contra o terror é uma desculpa dos EUA para tomar os recursos do Golfo Pérsico. Prometeu cortar a mão de quem tocar nessas riquezas.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, à direita de Ariel Sharon, que jaz moribundo ligado a aparelhos desde 4 de janeiro de 2006, empurra as negociações com a barriga para ganhar tempo e manter o status quo.

Bibi, como é conhecido em Israel, disse recentemente que Israel nunca vai poder abandonar o Rio Jordão, por questões de segurança. Ora, o Rio Jordão fica do outro lado da Cisjordânia. Assim a ocupação não acaba.

A Cisjordânia, e com ela o setor árabe de Jerusalém, pertencia à Jordânia até a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando Israel tomou também as Colinas do Golã, da Síria, e a Faixa de Gaza, do Egito.

Jerusalém e o Golã foram anexados, mas a sociedade internacional não reconhece isso porque a Carta da ONU veda a guerra de conquista.

Sharon foi o arquifalcão, envolvido em diversos episódios caracterizáveis como crimes de guerra, da matança de 69 pessoas em Khan Younis, na Faixa de Gaza, em 1950, ao massacre de 1,2 mil palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute, em 18 de setembro de 1982.

Como general, Sharon sabia que a segurança de Israel definitivamente depende de uma paz permanente, com a fixação de fronteiras permanents. Por isso, deixou o partido direitista Likud para formar o Kadima (Avante).

Depois de um acidente vascular cerebral, foi substituído pelo vice, Ehud Olmert, ex-prefeito de Jerusalém, que naufragou num escândalo de corrupção eleitoral, deixando como herdeira Tzipi Livni. Ela estava disposta a negociar a paz com os palestinos, mas perdeu as eleições para Netanyahu, que não teve dificuldade de formar o governo com os trabalhistas, partido histórico da construção de Israel, que governou ininterruptamente até 1974.

O atual líder trabalhista é o ex-primeiro-ministro Ehud Barak, hoje ministro da Defesa. Ele tentou fazer a paz às pressas no fim do governo Clinton, na segunda conferência de Camp David, no ano 2000. 

Mas Arafat preferiu confiar em Bush, achando que os republicanos seriam mais favoráveis aos árabes. 

Bill Clinton foi o mais pró-israel de todos os presidentes dos EUA. Sua mulher, a secretária de Estado, Hillary Clinton, ex-senadora por Nova York segue a linha. 

Assim, quando Hillary considera o anúncio de construção de 1,6 mil moradias no setor árabe de Jerusalém durante a visita do presidente Joe Biden a Israel um insulto e um "tapa na cara" dos EUA, está falando sério.

Barak, o mais laureado general do Exército de Israel, é da turma que estaria seriamente preocudo com o programa nuclear do Irã. Em 1981, Israel destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque, com apoio do governo Reagan, e acabou com o programa nuclear de Saddam Hussein. 

Operacionalmente, foi muito fácil.

Hoje, no Irã, seria uma situação completamente diferente. Para começar, as instalações nucleares estão dispersas e podem ser profundas.


Pela primeira vez na sua história recente, pelo menos desde a vitória sobre Nasser em 1967, Israel se sente incapaz de garantir sua própria segurança.

Este é o drama. O governo direitista não está preocupado com a questão palestina. Não está interessado nem acredita que mude em nada o problema existencial da segurança. Nisso, diverge do resto do espectro políico, que está convencido de que a paz é a maior garantia de segurança, sem esquecer o Irã.

O sistema político israelense se baseia no voto proporcional sem cláusula de barreira. O resultado é um parlamento extremamente fragmentado que forma governos frágeis. Já há algum tempo, o primeiro-ministro é escolhido por voto direto, mas isso acabou enfraquecendo os grandes partidos na Knesset, o parlamento israelense.

Nas últimas eleições, em 2009, nenhum partido chegou a eleger 30 deputados entre 120 cadeiras. O anúncio sobre ampliação de colônias em Jerusalém foi feito pelo partido ultrarreligioso Shas, que controla o ministério do Interior.

Nos últimos anos, partidos de imigrantes ganharam peso como Beiteinu Yisrael, do ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, que beira o fascismo.

Lieberman boicotou o discurso do presidente Lula no Parlamento de Israel porque o presidente não foi ao túmulo do austríaco Theodor Herzl, o pai do sionismo, que é a luta pela criação de um Estado Nacional para o povo judeu.

O movimento sionista nasceu no fim do século 19, uma época de grande perseguição e massacres de judeus na Europa Oriental.

Na época, uma comissão de rabinos de Viena foi ao Oriente Médio e escreveu: "A noiva é linda, mas infelizmente está comprometida com outro homem".

Esse é o drama irresolvido da criação de Israel. Havia outro povo vivendo naquela terra que até hoje não teve seus direitos nacionais reconhecidos.

Há quatro questões que pegam no processo de paz:
• as fronteiras definitivas de Israel e da futura Palestina;
• o direito de retorno dos palestinos expulsos de suas casas e terras pela criação de Israel;
• o futuro das colônias israelenses nos territórios ocupados (tem de sair, mas um pouco da terra eles vão tomar);
• e o status de Jerusalém, que os dois países reivindicam como capital.

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