Por iniciativa do Brasil, a reunião ministerial do Grupo dos 20 (19 países mais ricos do mundo e a União Europeia) realizada neste fim de semana na Escócia incluiu a questão cambial na agenda das discussões sobre como superar a crise econômica mundial.
O real é uma das moedas que mais se valorizaram diante do dólar, minando a competitividade das exportações brasileiras de produtos manufaturados, que se tornaram mais caros diante da concorrência. Quem mais se beneficia é a China, que vem ganhando mercado da indústria brasileira no mercado latino-americano.
Diante do colapso das exportações com a Grande Recessão, a China voltou a colar, na prática, a moeda chinesa, o iuã, no dólar. Há alguns anos, o iuã flutuava com base numa cesta de moedas. Desde o ano passado, passou a acompanhar o dólar, aumentando a competitividade das exportações em todos os países cujas moedas se desvalorizaram.
Com o câmbio flutuante, a lógica econômica indica que a moeda chinesa deveria se valorizar por causa do expressivo saldo comercial chinês e do grande influxo de investimentos externos no país. Ao manter a moeda subvalorizada, a China faz com que outras moedas, como o euro, paguem o custo da desvalorização do dólar.
Essa desvalorização traz um sério risco para o equilíbrio da economia global. Os investidores estão tomando dinheiro emprestado em dólares no momento em que a taxa básica de juros da economia dos Estados Unidos está em praticamente zero. Vendem esses dólares para aplicar em países com taxas de retorno maior, como o Brasil, onde a taxa básica está em 8,75%.
Ao fazerem isso, jogam o dólar ainda mais para baixo e valorizam moedas como o real.
Para o Brasil, chegou a hora de enfrentar a China, maior rival na disputa pelo mercado latino-americano, o único para onde o Brasil tem vendas externas significativas de produtos manufaturados.
Não se trata (ainda) de abrir uma guerra comercial, mas de não aceitar uma posição subalterna em relação à superpotência emergente, que não hesita em usar seu poderio, pressionar mercados e países fracos, e manipular o câmbio em defesa de seus interesses nacionais.
Apesar do governo Lula ver uma aliança ideológica com a China e uma possibilidade de reduzir a influência internacional dos EUA, inclusive substituindo o dólar por outra moeda internacional, neste caso específico do desequilíbrio cambial o Brasil está mais perto dos EUA.
Num globalizado e multipolar, é preciso negociar com todos os países, especialmente com os grandes, inclusive para evitar o surgimento de novas hegemonias.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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