Um dos desafios do Japão é se acomodar diante do extraordinário crescimento chinês. O país conta com o Brasil, uma economia complementar, para recuperar o dinamismo dos anos 80, disse o professor Yukio Okamoto, assessor do primeiro-ministro Yasuo Kukuda, quarta-feira, 5 de dezembro, na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
O Brasil tem uma grande população e recursos naturais abundantes; o Japão tem capital e tecnologia.
A China cresce pelo menos 8% ao ano há duas décadas. No ano passado, foram 11%; o Japão cresceu 1%. Em 10 anos, a economia da China terá dobrado. Neste ritmo, em 50 anos, terá crescido 68 vezes.
Desde 1956, o Japão cresceu cresceu 11 vezes.
“Teremos de contar com o Brasil”, sustentou Okamoto. “Não temos recursos naturais. A China consome hoje 47% do cimento do mundo, 30,5% do minério de ferro e 9% do petróleo. O lado obscuro do desenvolvimento é a poluição. A poluição da China cobre o céu do Japão.”
A China gasta sete vezes mais energia do que o Japão para produzir a mesma coisa. Sem transferência de tecnologia, o céu japonês continuará turvado.
“O Japão é cercado de grandes países”, raciocina o professor, analisando a vulnerabilidade de seu país. “O Exército do Japão é menor que os da Tailândia e de Mianmar. A China tem 2,3 milhões de soldados”. Por isso, ele considera a aliança com os EUA essencial ao Japão.
“A China está formando uma Marinha de alto-mar”, assinala Okamoto. “Tem a questão de Taiwan. A Coréia do Norte tem mísseis e armas nucleares. A única maneira de sobreviver é se aliar aos EUA.”
“Antes das reformas de Koizumi, dizia-se que o Japão viraria uma Suíça: rico, próspero e irrelevante.”
Aquele primeiro-ministro conseguiu superar uma década de estagnação: “Há um ano e meio atrás, o balanço dos empréstimos bancários tornou-se positivo. As grandes companhias estão lucrando muito mais. Há uma recuperação nas grandes cidades e um desequilíbrio em relação às pequenas cidades.”
O problema mais sério para o futuro é o envelhecimento e o declínio da população.
Dois dias no Brasil foram suficientes para o professor sentir o vigor e o dinamismo da economia brasileira, e “a natureza complementar da nossas economias”.
Okamoto entende que chegou a hora de retomar a colaboração dos anos 60 e 70: “Antes de vir, encontrei muitos líderes empresariais. Eles têm grandes aspirações em relação ao Brasil. Vêem o Brasil como diferente dos outros BRICs”, sigla criada pelo banco de investimentos Goldman Sachs para falar das grandes potências emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China.
“O Brasil tem estabilidade política, recursos naturais e mais confiabilidade nas pessoas para fazer negócios. É um verdadeiro parceiro”, proclamou o assessor japonês. Queremos cooperar em agricultura, aperfeiçoar a cultura da cana-de-açúcar. O Brasil é um grande produtor de soja, que se transforma numa infinidade de produtos. Muitas tecnologias são transferíveis. Podemos começar por aí.”
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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