A grande expectativa na América Latina em 2008 é sobre a transição em Cuba, agora que Fidel Castro, depois de 52 anos no poder, decidiu não se “apegar” mais a cargos.
Sempre houve uma suposição de que regime revolucionário cubano não sobreviveria a seu líder. O afastamento de Fidel por motivo de saúde com a possibilidade de voltar deu início a um processo controlado de transferência do poder.
Há uma nova geração que nasceu sob o regime comunista mas não tem o compromisso revolucionário dos que fizeram a revolução. “Os cubanos são mito empreendores”, afirma Paulo Wrobel. “O grande medo do regime é a desigualdade. A riqueza privada ainda é intolerável. Mas eles estão loucos para retomar o comércio com os EUA.”
O presidente interino, Raúl Castro, gostaria de fazer uma reforma no estilo chinês, uma abertura econômica sem liberalização política. Mas Cuba assinou documentos das Nações Unidas sobre direito de viajar ao exterior e liberdade de expressão que rejeitara antes.
A derrota da reforma do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para implantar o socialismo do século 21 mostra os limites da chamada “democracia plebiscitária”.
Há uma dissidência no chavismo, representada sobretudo pelo general Raúl Baduel, ex-ministro da Defesa que ficou ao lado do presidente no golpe de abril de 2002. A bola está com a oposição.
Muito mais complicada é a situação da Bolívia, um país muito pobre com uma longa história de instabilidade política, uma fratura social muito grande entre indígenas e europeus, entre o altiplano e o resto do país. Há uma paralisia política perigosa, com quatro dos nove departamentos proclamando autonomia. O presidente Lula recomendou calma a Evo Morales.
Na Argentina, a presidente Cristina Fernández de Kirchner significa sobretudo a continuidade. O governo de seu marido, Néstor Kirchner (2003-07), tirou o país da pior crise de sua história, causada pelo colapso da paridade dólar-peso no final de 2001.
Com o sucesso do agronegócio e dos biocombustíveis, a Argentina garante taxas de crescimento em torno de 9% ao ano. A economia elegeu Cristina, apesar da ameaça de crise energética no rigoroso inverno deste ano. Mas o Brasil deu um salto econômico e industrial à frente. As assimetrias são problemas que dificultam a integração regional da América Latina.
Na Europa, a Alemanha mantém sua posição como maior exportador mundial de bens, superando US$ 1 trilhão em 2007. A chanceler (primeira-ministra) adotou uma posição mais próxima dos EUA e quer a União Européia na liderança do combate ao aquecimento global.
O presidente Nicolas Sarkozy é talvez o mais pró-americano de todos os chefes de Estado da França. Quer reformar o país, enfrentando os sindicatos, para dinamizar a quinta maior economia do mundo. Tem apoio popular para isso.
Mais difícil é a situação do primeiro-ministro britânico. Gordon Brown chegou ao poder sem voto. Sucedeu Tony Blair sem passar pelo teste das urnas como líder do Partido Trabalhista. Com as pesquisas dando a liderança ao Partido Conservador, 2008 é um ano chave para Brown realizar suas reformas e se legitimar como chefe de governo.
A Espanha realiza eleições em 9 de março. Espera-se uma disputa apertada com favoritismo para o Partido Socialista Operário Espanhol do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero e o Partido Popular, de Mariano Rajoy.
Sarkozy e Zapatero se reuniram recentemente com o primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, para relançar o projeto de uma União do Mediterrâneo, uma associação com os países do Norte da África e do Oriente Médio com acesso ao mar.
No Japão, novamente à beira da estagdeflação, o governo Yasuo Fukuda precisa mostrar que não é apenas transitório. Moderado, Fukuda quer melhorar as relações com a China, que ainda são muito difíceis, em parte pela falta de reconhecimento pelo Japão dos crimes de guerra do Exército Imperial de 1931 a 1945.
A China tentará evitar o superaquecimento da economia e começa a se preocupar com problemas ambientes. Centenas de projetos de investimento em novas fábricas foram rejeitados nos últimos dois anos. No passado, isso raramente acontecia.
Mais movimentada estará a cena política da África do Sul, com a vitória do ex-vicepresidente Jacob Zuma sobre o presidente Thabo Mbeki na disputa da liderança do Congresso Nacional Africano, partido histórica da maioria negra na luta contra a minoria branca. Em 96 anos de história, o CNA não tinha tido uma convenção tão tumultuada.
Mbeki, um jovem filho da elite que foi estudar na Europa, um esquerdista convertido à economia de mercado, era considerado insensível ao sofrimento da maioria que ainda não tem aquilo que lhes era negado pela regime segregacionista branco do apartheid: terra, casa, trabalho e serviços públicos razoáveis.
Zuma, sem educação formal, era um dos chefes do braço armado do CNA. É acusado de violência sexual e corrupção. O procurador-geral promete processá-lo. Só isso pode barrar sua ascensão à Presidência da África do Sul, o trono de Nelson Mandela.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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