Em carta aberta lida na televisão estatal, o comandante Fidel Castro, presidente de Cuba licenciado há um ano e quatro meses por motivo de saúde, declarou que não vai se aferrar ao poder mas abrir caminho às novas gerações.
"Meu dever fundamental não é me aferrar a cargos nem muito menos obstruir a passagem de pessoas mais jovens, e sim aportar experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que me tocou viver", afirmou o ditador cubano.
Fidel está no poder desde a vitória da revolução cubana, em 1º de janeiro de 1959. Acumulava, entre outros, os cargos de presidente, primeiro-ministro, comandante das Forças Armadas e líder do Partido Comunista.
Em 31 de julho de 2006, transferiu todos esses cargos a seu irmão, o ministro da Defesa, Raúl Castro, antes de ser submetido a uma operação de emergência para estancar uma hemorragia intestinal. Desde então, nunca mais foi visto em público.
No primeiro ano após seu afastamento, os dirigentes cubanos e seu maior aliado, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, insistiam em que Fidel voltaria ao poder.
A carta lida na segunda-feira, 17 de dezembro, marca o fim de uma era:
"Não guardo ilusões", acrescentou Fidel. "Minha convicção mais profunda é que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana, que possui um nível educacional médio de 12 anos de escolaridades, com quase um milhão de universitários graduados (...) requerem mais variáveis como resposta para cada problema concreto do que as contidas num tabuleiro de xadrez".
Há poucos dias, seu nome foi confirmado como candidanto à Assembléia Nacional nas eleições de 20 de janeiro, precondição para se manter na presidência e na chefia do governo. Agora, promete não atrapalhar a ascensão ao poder das novas gerações.
Isto sugere que Fidel não apóia uma transição permanente do poder para seu irmão, Raúl, que deu sinais claros de que pretende fazer uma reforma econômica no estilo chinês, sem liberalização política.
"Não de pode ignorar um só detalhe, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária há de prevalecer sobre seus instintos", raciocinou o comandante, resgatando a idéia freudiana de um conflito permanente entre os princípios do prazer e da realidade que as utopias revolucionárias dos anos 60 como o Maio de 68 na França tentaram harmonizar.
Uma empresa do Oriente Médio, a Dubai Ports, fechou um contrato para reformar os portos de Cuba. Para os analistas, isso significa que está apostando no fim do embargo econômico dos Estados Unidos à Cuba, erroneamente chamado de bloqueio.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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