Dois anos depois de ser destituído da liderança do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de voltar numa eleição primária e de chegar ao poder numa moção de desconfiança, o primeiro-ministro Pedro Sánchez foi o grande vencedor das eleições gerais deste domingo na Espanha.
Com 99,98% dos votos apurados, o PSOE elegeu 123 (28,7%) dos 350 membros do Congresso dos Deputados. Mas vai precisar fazer alianças para governar. Sua parceira natural, a frente de esquerda Unidos Podemos, conquistou 42 cadeiras. A soma dá 165.
Nas terceiras eleições gerais em quatro anos, a participação foi de 75%. O grande derrotado foi 0 Partido Popular (PP), conservador, que caiu de 135 para 66 deputados (16,7%), no pior desempenho de sua história. Os Cidadãos, de centro-direita, elegeram 58 deputados (15,8%).
A grande novidade foi a volta da extrema direita ao Parlamento da Espanha depois do fim da ditadura do generalíssimo Francisco Franco Bahamonde, em 1975. O partido Vox, que no ano passado entrara no parlamento regional da Andaluzia, elegeu agora 24 deputados nacionais (10,3%).
Em seguida, vieram partidos regionais como a Esquerda Revolucionária da Catalunha (ERC). Com 15 deputados, a ERC é agora o maior partido independentista catalão, à frente dos Juntos pela Catalunha, que ficaram com sete cadeiras.
O Partido Nacionalista Basco (PNV), de centro-direita, a favor da independência do País Basco mas contra a violência da ETA (Euskadi Ta Askatasuna), também elegeu sete deputados.
Com a derrota da direita, Sánchez é o único em condições de formar um governo de maioria. "Com Rivera, não! Com Rivera, não", gritavam os militantes do PSOE, rejeitando uma aliança com os Cidadãos, liderados por Albert Rivera. O próprio Rivera descartou esta possibilidade.
Uma aliança entre o PSOE e Unidos Podemos teria 165 deputados, 11 a menos do que a maioria absoluta. A direita somada chegaria a 148, com PP, Cidadãos e Vox.
Sánchez chegou ao poder em 2 de junho de 2018 depois de derrubar o primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy com um voto de desconfiança, com o apoio dos partidos a favor da independência da Catalunha. Foi obrigado a convocar eleições antecipadas quando perdeu o apoio dos catalães, que exigem a realização de um plebiscito sobre a independência. Isso dificulta qualquer acordo.
Desde a redemocratização, o PSOE e o PP se alternavam no poder. A Grande Recessão (2008-14) explodiu a bolha imobiliária. O sistema bancário espanhol estava quebrado. Em 2012, a Espanha pediu 100 bilhões de euros ao Mecanismo Europeu de Estabilidade. O desemprego chegou a 27% no primeiro trimestre e passou de 55% entre os jovens.
A pior crise da era pós-Franco fragmentou o sistema político espanhol. Surgiram dois novos partidos, Podemos à esquerda e Cidadãos, de centro-direita. Com a reação conservadora ao movimento pela independência da Catalunha somada à crise econômica, a extrema direita está de volta ao Parlamento.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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