A junta militar que derrubou ontem o ditador Omar Bachir, que estava no poder havia 30 anos, anunciou hoje que ele será julgado no Sudão e não extraditado para responder a processo no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, onde foi denunciado por crimes contra a humanidade e crimes de guerra por causa do genocídio de Darfur.
Sob pressão das ruas, o novo homem-forte do país, general Omar Zain al-Abidin, prometeu realizar eleições em dois anos. Ele afirmou que os militares que derrubaram Bachir "não têm fome de poder" e serão "guardiães das demandas do povo".
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, o general convocou ao diálogo todos os partidos do Sudão, menos o Congresso Nacional, de Bachir, acusando-se de ser "responsável pelo que aconteceu".
A Associação dos Profissionais Sudaneses, uma das organizações da sociedade civil organizadora das manifestações de rua, rejeitou o convite ao diálogo alegando que a junta militar "não é capaz de promover a mudança".
O porta-voz da associação, Rachid Said, disse: "Fomos enganados por uma grupo de pessoas que tomou o poder do Exército. Este é um pequeno grupo ligado ao regime de Bachir. Tomaram o poder com a concordândia de Bachir."
Como várias facções do Exército, várias milícias e o poderoso Serviço Nacional de Segurança e Inteligência estavam comprometidos com o antigo regime, há fortes suspeitas em relação ao diálogo e a uma mudança efetiva.
Pelo menos 11 pessoas foram mortas ontem, sendo oito na província de Darfur, no Leste do Sudão, local de um genocídio no início do século. O total de mortes desde que os protestos começaram, em dezembro, chegou a 90.
O TPI denunciou Bachir por cinco acusações de crimes contra a humanidade, duas de crimes de guerra e três de genocídio supostamente ocorridos em Darfur entre 2003 e 2008.
A crise econômica, agravada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, e a perda da renda do petróleo com a independência do Sudão do Sul, em 2011, contribuíram para o fim da ditadura de Bachir.
Com a queda do ditador sudanês e de Abdelaziz Bouteflika, que estava no poder há 20 anos na Argélia, fica no ar a dúvida de estar ocorrendo uma segunda Primavera Árabe como a de 2011, quando caíram ditaduras na Tunísia, no Egito, na Líbia e no Iêmen, e teve início a guerra civil na Síria.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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