domingo, 25 de fevereiro de 2018

Partido Comunista da China torna Xi Jinping ditador vitalício

Nem o fundador da República Popular da China, Mao Tsé-tung, conseguiu tanto. O Partido Comunista vai acabar com o limite de dois mandatos de cinco anos para líder do partido e presidente da China, imposto pelo líder reformista Deng Xiaoping. Na prática, o dirigente supremo Xi Jinping se torna presidente perpétuo e ditador vitalício, um verdadeiro imperador.

Xi, de 64 anos, completa seu primeiro mandato como presidente em março. Não esperou o segundo para deixar claras suas intenções de poder absoluto. Neste domingo, a agência oficial de notícias Nova China anunciou a decisão do PC de acabar com o limite para a reeleição presidencial.

O Comitê Central do PC se reúne por três dias a partir desta segunda-feira. Deve propor a reforma constitucional, a ser aprovada na sessão anual do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, que neste ano começa em 5 de março.

A manobra permite a Xi se eternizar no poder, observou o jornal The New York Times. Deng mudou a regra do jogo de uma ditadura personalista para um governo colegiado para evitar o culto da personalidade da Era Mao (1949-76), que levou à Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76).

Grande fantasma da era de reformas econômicas promovidas por Deng, que estão levando a China a se tornar na maior economia do mundo até 2030, a volta do caos da Revolução Cultural é mais uma vez uma ameaça, se o regime comunista se dilacerar em conflitos internos.

"Com certeza, Xi Jinping vai continuar", afirmou o historiador Zhang Ming, professor aposentado da Universidade do Povo, em Beijim. "Na China, ele pode fazer o que quiser. Está apenas enviando um sinal claro disso."

Xi acalenta o sonho chinês de criar uma sociedade moderna e desenvolvida, uma superpotência, e imprimir sua marca nas relações internacionais. Qualquer reforma política liberal ou democrática está adiada ou arquivada.

A Constituição consagra a "ditadura popular democrática" sob a "liderança do PC chinês e a orientação do marxismo-leninismo, do pensamento de Mao Tsé-tung, da teoria de Deng Xiaoping e do pensamento de Xi Jinping sobre socialismo com características chinesas para uma nova era".

Em seu primeiro mandato, Xi lançou uma grande campanha anticorrupção para afastar os inimigos e consolidar o poder dentro do partido e do regime comunista. Numa ditadura, a corrupção é a norma entre os dirigentes do PC. Assim, ele pôde expurgar quem quis.

"É mais um passo na ruptura contínua com as normas políticas do período das reformas", comentou Carl Minzner, professor da Faculdade de Direito da Universidade Fordham, em Nova York, e autor de um livro sobre o autoritarismo crescente de Xi.

Quais os riscos para a China e para o mundo? "Em curto prazo, todos os perigos tradicionais da centralização excessiva do poder nas mãos de uma só pessoa. A longo prazo, a questão é até onde a ruptura pode ir", acrescenta o professor Minzner.

Como seus antecessores estão velhos, Jiang Zemin com 91 anos e Hu Jintao, um típico burocrata, com 75 anos, é improvável que liderem uma contestação interna no partido.

"Xi não tem mais limites. É dono de todo o processo político", comentou a professora Susan Shirk, diretora do Centro China no Século 21, da Universidade da Califórnia em São Diego. "As políticas interna e externa da China são restritas ou agressivas como ele quiser. O risco de erros de avaliação é o maior de qualquer líder desde Mao."

Um dos maiores especialistas americanos em China, o professor Kenneth Lieberthal, da Universidade de Colúmbia, nos EUA, afirmou no livro Governando a China (1995) que há dois mil anos a sociedade chinesa criou uma burocracia capaz de administrar seu país de dimensões continentais. Mas até hoje não criou um sistema político capaz de controlar a luta pelo poder entre suas elites. Xi acaba de pegar todo o poder para si, uma receita para o fracasso.

Nos últimos anos, a China reafirmou agressivamente sua reivindicação territorial sobre 90% do Mar da China, lançou o grande projeto de infraestrutura do novo Caminho da Seda para ligar o país a seu maior mercado, a União Europeia, investiu no desenvolvimento tecnológico do Exército Popular de Libertação para acabar com a hegemonia dos EUA no Oceano Pacífico e aumentou a censura e controle interno.

São indicações sobre como a China vai agir como superpotência.

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