Na pior queda em pontos num dia, o Índice Dow Jones, que mede o desempenho das 30 principais ações da Bolsa de Nova York, chegou a registrar baixa do mais de 1.500 pontos e terminou o dia com perdas de 1.175 pontos (4,6%). O índice amplo Standard & Poor's 500 caiu 4,1% e a bolsa Nasdaq, da empresas de alta tecnologia, recuou 3,8%.
Percentualmente, foi a maior queda do Dow Jones desde 8 de agosto de 2011 (5,6%), durante a crise da Zona do Euro, por medo de contágio da Espanha e da Itália. Também foi menos do que em 29 de setembro de 2008 (7%), no auge da crise deflagrada pela falência do bando de investimentos Lehman Brothers duas semanas antes.
O recorde negativo foi uma queda de 22,61% na Segunda-Feira Negra, 19 de outubro de 1987. No colapso da Bolsa de Nova York que deu início à Grande Depressão (1929-39), as perdas foram de 11% em 24 de outubro de 1929, 12,82% no dia 28 e 11,73% no dia 29 do mesmo mês.
Ao redor do mundo, as bolsas praticamente zeraram os ganhos deste ano. O Índice Dow Jones está em queda de 1,5% no ano e 8,5% abaixo do recorde de 26 de janeiro, perto dos 10%, que caracterizam o que os economistas chamam de uma "correção" nos preços das ações.
"É a primeira vez em algum tempo em que eu diria que o sentimento é de pânico para vender", comentou Tim Anderson, diretor-executivo da corretora TJM Investments, citado pelo jornal The Wall Street Journal, porta-voz do centro financeiro de Nova York. As ações dos setores bancário, de energia e de alta tecnologia tiveram grandes perdas.
O índice dos grandes bancos perdeu 4,9% e o S&P 500 do setor de energia, 4,4%. O petróleo do tipo West Texas Intermediate, padrão do mercado americano, caiu 2% para US$ 64,15 por barril de 159 litros.
As dez maiores baixas foram da Chevron (-13,65%), DowDuPont (-10,27%), Exxon Mobil (-9,76%), Pfizer (-9,57%), UnitedHealth (-9,43%), Home Depot (-9,6%), Johnson & Johnson (-8,97%), 3M (-8,92%), Intel (-9,53%) e Caterpillar (-8,04%).
Outros analistas atribuíram a forte baixa à negociação feita por algoritmos: "O interessante na ação de hoje foi causado provavelmente por modelos de computador que precisam equilibrar os riscos, observou Youssef Abbasi, estrategista do mercado global da corretora Jones Trading.
Quando o índice S&P 500 caiu abaixo dos 2.700 pontos, a venda se acelerou, notou Abbasi: "Aquilo inerentemente deu o tom de vender. Voltar a ficar em zero no ano criou um ponto de inflexão." Em determinado momento, o Dow Jones perdeu 800 pontos em 10 minutos, acumulando uma queda de quase 1.600 pontos no dia.
O entusiasmo por ações levou os investidores a investir US$ 102 bilhões em fundos de investimentos. Desde que o relatório de emprego de janeiro, divulgado na sexta-feira, revelou um ritmo forte de contratações e uma alta média dos salários em 2,9% em um ano, há uma expectativa de alta da inflação e aumentos nas taxas básicas de juros pelo Conselho da Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA.
A reforma fiscal do governo Donald Trump também pesou negativamente. Com a expectativa de alta de US$ 1,5 trilhão na dívida pública dos EUA em dez anos, os juros dos títulos da dívida pública do Tesouro americano subiram e passaram a concorrer com o investimento em ações. Os juros estão no nível mais alto em quatro anos.
Sempre pronto a assumir a responsabilidade por qualquer sucesso, Trump não se manifestou sobre a forte queda no valor das empresas com ações negociadas em bolsa. O porta-voz Raj Shah, citado pelo jornal inglês Financial Times, declarou que "os mercados flutuam em curto prazo, penso que todos sabemos disso. Mas os fundamentos desta economia são muito fortes."
Apesar do caos dos últimos dias, alguns economistas entendem que "este é um recuo saudável", como Jason Draho, chefe de alocação tática de ativos na América do setor de gerenciamento de fortunas do banco suíço UBS. Seria uma pausa depois de um longo período de alta no mercado. Cria uma oportunidade para comprar ações de empresas promissoras que caíram com a venda generalizada.
Em São Paulo, o índice Bovespa recuou 2,6% e o dólar subiu para R$ 3,25.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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