Sob pressão do Congresso Nacional Africano, diante de mais de 700 acusações de corrupção, Jacob Zuma renunciou hoje à Presidência da África do Sul. Ele será substituído pelo vice-presidente Cyril Ramaphosa, novo líder do partido, que deve ser eleito presidente amanhã pela Assembleia Nacional.
"Nenhuma vida deve ser perdida em meu nome. Tomei a decisão de renunciar com efeito imediato, embora discorde da liderança da minha organização", declarou Zuma. Sem pedir perdão pelos crimes cometidos, ele reafirmou que se considera inocente.
Durante seus nove anos no poder, a África do Sul cresceu em média 1,5%. No fim do ano passado, o índice de desemprego estava em 26%.
"Não estamos celebrando", comentou o subsecretário-geral do CNA, Jessie Duarte. "Temos de ter respeito por nosso camarada e poupá-lo da humilhação de um voto de desconfiança no Parlamento."
A renúncia poupou o CNA de revelar sua divisão na Assembleia Nacional e de necessitar de votos da oposição para afastar um presidente corrupto que sustentou durante nove anos, apesar de todos os escândalos. A Aliança Democrática, de oposição, quer saber por que o CNA demorou tanto tempo a se livrar de Zuma.
Como o regime sul-africano é parlamentarista, é a Assembleia Nacional que elege o presidente. Na prática, o CNA trocou seu líder. Hoje, o partido do governo tem uma ampla maioria de 249 dos 400 deputados sul-africanos. A AD tem 89 cadeiras e os Combatentes pela Liberdade Econômica, 25.
Durante a luta contra a ditadura da minoria branca e o regime segregacionista do apartheid, Ramaphosa era líder sindical, secretário-geral do Congresso dos Sindicatos da África do Sul (Cosatu). Chegou a ser cotado para vice de Nelson Mandela, o grande herói da maioria negra, mas foi preterido por Thabo Mbeki.
Antes de voltar à política como vice-presidente na chapa de Zuma, Ramaphosa se tornou um dos empresários negros mais ricos da África do Sul. Ele promete moralizar o governo e resgatar a integridade das instituições.
Ao depor Zuma, o CNA renova seu compromisso histórico com a democracia. Estava parecendo os movimentos que lutaram pela libertação de outros países africanos e os transformaram em ditaduras de partido único.
O CNA, um movimento de libertação nacional, mantém o monopólio de poder na África do Sul pós-apartheid. Mas terá de renová-lo nas urnas nas eleições gerais de 2019. A corrupção e o fantasma de Zuma vão pesar nas urnas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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