Depois de uma década de restrições orçamentárias, a Lei de Programação Militar apresentada ontem ao Conselho de Ministros da França prevê investimentos de 295 bilhões de euros (R$ 1,180 trilhão) nos próximos sete anos para modernizar as Forças Armadas e reforçar a capacidade nuclear com um novo submarino e mísseis aerotransportados.
Mais 6 mil militares serão recrutados, a metade até 2023. O orçamento militar francês deve chegar a 2% do produto interno bruto até 2025, de acordo com a exigência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, noticiou o jornal Le Monde.
Os objetivos são a "regeneração" ou modernização tecnológica das Forças Armadas e a "preparação para o futuro". A França quer manter sua "autonomia estratégica". Isso significa ter seu próprio mecanismo de dissuasão nuclear, suas próprias armas atômicas, sem depender dos EUA e da OTAN para sua defesa.
Além da instabilidade crescente na era Donald Trump, da agressividade crescente da Rússia e da ascensão da China, a França foi profundamente abalada pelos atentados terroristas de 2015, o que levou o presidente Emmanuel Macron a propor esta profunda reforma.
As despesas com salários, condições de vida e de trabalho dos militares franceses vão crescer 14% de 2019 a 2023. O Exército francês precisa de novos tanques e blindados. A metade dos veículos do Projeto Scorpion (Sinergia de Contato Reforçada pela Polivalência e a Infovalorização), que visa a equipar carros de combate com a última tecnologia da informação para aumentar a interoperacionalidade das Forças Armadas, será entregue até 2025.
Cerca de 17 bilhões de euros (R$ 68 bilhões) serão destinados à inovação para preservar a "superioridade operacional no futuro". Os centros de pesquisa da indústria vão se beneficiar com o investimento público.
A guerra cibernética também é uma preocupação, da suposta ingerência da Rússia em eleições presidenciais a ataques de vírus como WannaCry.
A Marinha vai ganhar quatro novos submarinos de ataque Barracuda e três fragatas. A Força Aérea vai receber os 12 primeiros aviões de reabastecimento aéreo em 2023, dois anos antes do previsto anteriormente.
Para manter a "autonomia estratégica", o investimento nas armas atômicas será de 37 bilhões de euros (R$ 148 bilhões) até 2025. As prioridades são um submarino lançador de mísseis nucleares com motores de terceira geração e o desenvolvimento de um novo míssil nuclear aerotransportado.
As bases militares francesas no exterior serão reforçadas e abertas a cooperação com outros países europeus e os governos locais. Os serviços de informações terão um orçamento de 6 bilhões de euros (R$ 24 bilhões).
A França vai lançar dois novos satélites militar (Ceres e Musis), comprar oito aviões-espiões rápidos, em vez dos dois anteriormente previstos, adquirir um novo navio-espião e drones Reaper, os mais poderosos dos EUA.
Em futuro breve, será necessário substituir o porta-aviões Charles de Gaulle, desenvolver o sistema de combate aéreo do futuro e o tanque do futuro, que a França pretende criar em parceria com seus aliados europeus.
A Assembleia Nacional da França, amplamente dominada pelo partido A República em Marcha, do presidente Macron, começa a examinar o projeto da Lei de Programação Militar a partir de 12 de março.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
França gasta 295 bilhões de euros para manter "autonomia estratégica"
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