O massacre em Parkland, na Flórida, ontem foi o 18º oitavo ataque a tiros dentro de uma escola em 2018 e o terceiro pior da história dos Estados Unidos, com 17 mortes. O atirador, Nikolas Cruz, foi apresentado hoje à Justiça e confessou a culpa. Ele tem contato com grupos supremacistas brancos e havia sido expulso da escola por mau comportamento. Mas não é surpresa. É uma tragédia anunciada que se repete.
Nikolas Cruz, de 19 anos, chegou de Uber às 14h19 de ontem (17h19 em Brasília). Entrou na Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas, pegou um fuzil de guerra AR-15 e "passou a atirar em estudantes, nos corredores, em salas de aula e no pátio da escola", descreve o relatório da polícia sobre a prisão.
Depois de metralhar estudantes em cinco salas de aula de dois andares, Cruz deixou o rifle, o colete a prova da bala e a munição no terceiro andar e fugiu misturando-se à multidão que tentava sair da escola desesperadamente.
O atirador foi até uma loja do Walmart, onde comprou uma bebida na lanchonete Subway. Também esteve numa loja do McDonald's antes de ser preso sem resistir numa rua residencial às 15h41 (18h41 em Brasília).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o índice de mortalidade de menores de idade nos EUA é o maior entre os países ricos num declínio relativo que começou nos anos 1960s.
Naquela década, a mortalidade infantil (de bebês de menos de um ano) e a mortalidade infanto-juvenil (entre 1 e 19 anos de idade) combinadas deixavam os EUA em 14º lugar entre 20 países ricos. O país ficou na mesma posição nos anos 1970s, mas caiu para o 19º lugar nos anos 1980s e para o último nos anos 1990s e no século 21.
Se os índices de mortalidade dos EUA fossem iguais aos de outros países ricos, 622,7 mil mortes de menores teriam sido evitadas nos 50 anos de 1961 a 2010.
"Cuidar das crianças é a principal responsabilidade moral da nossa sociedade", declarou o médico-residente Ashish Thakrar, do Hospital John Hopkins, em Baltimore, um dos autores da pesquisa baseada nos dados da OMS, publicada na revista acadêmica Health Affairs. "Os EUA gastam com saúde por criança mais do que todos os outros países, mas o resultado continua pobre."
Para jovens de 15 a 19 anos, a principal causa de mortes nos EUA é acidente de trânsito, duas vezes mais fatais do que em 19 países ricos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A segunda principal causa de mortes dos adolescentes americanos é tiro com armas de fogo. O risco de morrer baleado é 82 vezes maior nos EUA do que nos países ricos da OCDE.
"Nós não levantamos as mãos para o ar em rendição porque uma doença parece ser incurável", disse em editorial a Health Affairs. "Trabalhamos contínua e incrementalmente para reduzir o impacto. É nosso trabalho."
O FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal americana, recebeu em setembro do ano passado uma denúncia de que Cruz havia divulgado um vídeo no YouTube avisando que seria um "atirador profissional em escolas".
Na CNN, uma mãe que perdeu uma filha de 14 anos dá um depoimento aos berros, exigindo que o presidente Donald Trump faça alguma coisa, aja para combater a epidemia de massacres a tiros nos EUA.
Trump prometeu proteger todas as crianças americanas. Na prática, rezou pelas vítimas. O Partido Republicano é refém da Associação Nacional do Rifle, o lobby das armas, que financia campanhas e se recusa a aceitar qualquer restrição ao direito de comprar e portar armas.
O atirador de Parkland pôde comprar armas porque não tinha antecedentes criminais. Tem um desequilíbrio mental, mas isso não o impediu de comprar um fuzil de guerra e grande quantidade de munição. Na Flórida, comprar um AR-15 é mais fácil do que comprar um revólver, informou o jornal The New York Times.
Diante de tragédias anunciadas semelhantes, o então presidente Barack Obama reclamava que há pessoas que não podem entrar num avião nos EUA porque estão na lista de suspeitos de terrorismo, mas podem comprar armas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
EUA são o país rico mais perigoso para crianças e jovens
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