domingo, 19 de abril de 2009

Lula não imagina Brasil sem aliança com Argentina

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a prioridade que o Brasil dá às relações com a Argentina como a pedra fundamental da integração sul-americana.

Em entrevista exclusiva publicada neste domingo pelo jornal argentino La Nación, Lula disse que não pode imaginar o Brasil distante da Argentina no cenário internacional.

Como nasceu em outubro de 1945, mês do 17 de outubro que marcou a volta triunfal de Juan Domingo Perón ao poder, Lula foi perguntado se seria mais um peronista, caso tivesse nascido argentino: "Acho que sim porque todo o mundo era. Mas não entendo muito o peronismo. Tem peronistas de direita e de esquerda. É um milagre argentino".

Nem tanto, presidente. Pense num saco de gatos tipo PMDB com bases sindicais. Se o PMDB um dia usou como slogan "você sabe por quê", em que qualquer um poderia acrescentar o que quisesse, os peronistas batem seus bumbos aos brados de "Perón! Perón! Perón! Perón!", sem acrescentar uma mensagem substantiva, além do nome do velho caudilho.

Sem esconder sua satisfação pela derrota dos "defensores do Deus mercado" na atual crise econômica mundial, Lula está convencido de que este é um momento excepcional para fazer política: "Chegou a hora de investir, gerar empregos e melhorar a distribuição da renda".

Lula de define como um socialista mas afirma que nunca foi "marxista" nem favorável ao modelo stalinista soviético que vigora até hoje na Coreia do Norte e em Cuba: "Minhas origens foram o movimento sindical, as comunidades de base e o movimento social. Sempre me considerei socialista, mas o PT nunca escolheu um tipo de socialismo porque isso era impossível. Havia o exemplo da União Soviética: era esse o modelo que eu queria? Não, não concebo um socialismo sem liberdades democráticas, sem direito de greve, sem alternância no poder".

Ele não quis estabelecer diferença ideológicas entre os diferentes presidentes de esquerda da América Latina, da moderada líder chilena Michelle Bachelet ao histriônico caudilho venezuelano Hugo Chávez, alegando que cada um é produto da cultura política própria de seu país.

Quando era sindicalista, comentou Lula, a Volkswagen empregava 44 mil pessoas no Brasil; hoje, 17 mil fazem a mesma produção. O presidente imagina que será necessário reduzir a jornada de trabalho para poder empregar a mão de obra excedente com a robotização e automação cada vez maior do aparelho produtivo.

Depois que Obama consagrou Lula como o político mais popular do planeta (mais popular dentro do seu país porque, no planeta como um todo, dá Obama), La Nación se pergunta qual o segredo do carisma e do sucesso do presidente do Brasil: "Uma infância muito pobre, uma militância sindical que derivó em partidária, uma prisão durante a ditadura em que sofreu tortura, uma ascensão política em que conheceu várias vezes a derrota, uma consagração com dois governos sucessivos que incluíram escândalos de corrupção, um perfil de dirigente de esquerda que não hesitou em abandonar os dogmas e a optar pelo pragmatismo sem esquecer suas origens, o que o levou a continuar algumas políticas de seus predecessores.

Lula é sobretudo um conciliador: "Quero construir consensos com a Argentina", declarou o presidente. "A única divergência com a Argentina é no futebol", apesar do estilo turrão do ex-presidente Néstor Kirchner, a principal força por trás do trono no governo de sua mulher, a atual presidente Cristina Fernández de Kirchner.

O presidente do Brasil acredita que os países emergentes estão em melhor situação do que os mais ricos para sair da crise, "mas nós não vamos poder sair se eles não saírem. Para que a gente saia dessa crise, é preciso que a situação nos países ricos pare de piorar. Se a crise para, a China vai vender mais e também o Brasil e a Argentina".

Nenhum comentário: