Em tom de campanha eleitoral, o presidente Donald Trump fez ontem o Discurso sobre o Estado da União apresentando seu governo como o melhor da história dos Estados Unidos. Mas mentiu e exagerou como de costume.
No final, a presidente da Câmara dos Representantes, a deputada democrata Nancy Pelosi, rasgou o discurso enquanto o presidente era aplaudido. Ao chegar, ele recusou o aperto de mão de Pelosi.
Para os padrões de Trump, foi um discurso moderado, lido no teleprompter. Ele tentou se apresentar como um conciliador que governa para todos, mas o tom foi nitidamente partidário e autolaudatório.
Trump destacou os sucessos da economia, seu principal tema na campanha, mas omitiu que o país cresce sem parar desde 2009, no início do governo Barack Obama, e que o mercado de trabalho está em expansão desde 2010, atribuindo-se todas as glórias.
A contribuição de Trump para incentivar a economia foi o corte de impostos, que beneficiou principalmente os mais ricos e aumentou o déficit orçamentário para cerca de US$ 1 trilhão, deixando a conta para as futuras gerações. O dinheiro extra injetado na economia explica os recordes nas bolsas de valores.
O presidente não mentiu quando disse que as taxas de desemprego entre negros e latino-americanos são as menores da história. Mas afirmou que está protegendo quem tem doenças preexistentes nas reformas do sistema de saúde. Na prática, está na Justiça tentando derrubar a reforma de Obama e a garantia sobre doenças preexistentes.
A segurança nacional e a imigração, temas importantes na campanha, também foram exploradas. Trump mentiu mais uma vez ao dizer que quando chegou ao poder a organização terrorista Estado Islâmico controlava um grande território. Já estava acuado, em pleno recuo.
Dois inimigos dos EUA, o líder do Estado Islâmico, Abubaker al-Baghdadi, e o chefe da Força Quods, tropa de elite da Guarda Revolucionária Iraniana, general Kassem Suleimani, foram mortos em ações militares americanas em seu governo, destacou Trump. Foi um dos poucos momentos em que foi aplaudido por republicanos e democratas. Mas um relatório do Departamento da Defesa conclui que a capacidade operacional do Estado Islâmico não diminuiu.
A diplomacia americana não vai tão bem assim. Trump destacou os acordos comerciais com a China e os países da América do Norte, mas a guerra comercial com os chineses prejudicou o crescimento dos EUA e da economia mundial. O novo acordo de livre comércio da América do Norte pouco mudou. A alegação de que vai gerar 100 mil empregos não tem fundamento. É mais uma mentira.
Sob seu governo, declarou o presidente, o direito de portar armas será garantido, assim como a "liberdade religiosa", inclusive o direito de rezar em escolas públicas, antiga reivindicação do eleitorado cristão conservador. Na prática, é uma violação do secularismo do Estado, base da liberdade religiosa.
O aquecimento global, que o governo Trump nega ser causado pelo homem, não foi mencionado, mas, sim, que os EUA são hoje os maiores produtores mundiais de petróleo e gás. Ele omitiu que isto acontece desde 2012, quando Obama estava na Casa Branca.
Na plateia, foram homenageados o radialista ultraconservador Rush Limbaugh, que está com câncer de pulmão avançado, condecorado com a Medalha da Liberdade, veteranos de guerra, os pais de soldados mortos em combate e o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, reconhecido por 52 países como presidente interino do país.
Ao justificar o gesto de rasgar o discurso, a presidente da Câmara descreveu o texto como um "manifesto de inverdades" e sua atitude como "cortês, considerando a alternativa".
Hoje a bancada republicana no Senado deve absolver Trump no julgamento do processo de impeachment das acusações de abuso de poder ao pressionar o presidente da Ucrânia a investigar o filho do ex-vice-presidente Joe Biden e de obstruir as investigações da Câmara sobre o caso.
Apesar do impeachment, a popularidade do presidente aumentou. Na última pesquisa, 49% dos americanos aprovaram sua administração. Com a economia crescendo em ritmo de 2,1% ao ano e o desemprego em 3,5%, Trump tem grandes chances de se reeleger em 3 de novembro.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020
Pelosi rasga discurso mentiroso de Trump
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