sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Neonazistas podem se tornar força importante na Eslováquia

Eles usam roupas escuras, jaquetas de couro pretas e bonés pretos, a exemplo da Guarda Hlinka, a força paramilitar eslovaca que colaborou com a Alemanha nazista no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.

Sob a liderança de Marian Kotleba, o Partido Popular Nossa Eslováquia pode se tornar a segunda força no Parlamento da Eslováquia nas eleições deste sábado. Com 11% das preferências, está alguns pontos atrás dos sociais-democratas.

A Eslováquia, que até 1993 fazia parte da Tcheco-Eslováquia, era considerada um modelo de democracia entre os antigos países comunistas da Europa Oriental. Com cerca de 5 milhões de habitantes e crescimento de 3% ao ano há muito tempo, tem pleno emprego e atraiu fábricas de automóveis como Mercedes-Benz, Kia, Renault e Volkswagen.

Agora, parece seguir o destino da Hungria e da Polônia, onde governos de extrema direita atacam a liberdade de imprensa, a independência do Poder Judiciário e a União Europeia, com a diferença de que os neonazistas eslovacos são muito mais sectários.

Há dois anos, o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak, que reportava a corrupção do governo populista social-democrata e revelou uma rede ligando empresários e políticos corruptos, abalou o país. O Ministério Público acusou o oligarca Marián Kocner de ser o mandante do crime.

Quando dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas da capital, Bratislava, e de outras cidades eslovacas, o primeiro-ministro Robert Fico foi obrigado a renunciar. A aliança liberal liderada pelo partido Eslováquia Progressista venceu as eleições para o Parlamento Europeu e sua líder, Zuzana Caputová, foi eleita presidente.

Mas, em vez de fortalecer os partidos liberais e pró-europeus, o grande beneficiário da morte de Kuciak foi o movimento neonazista, constata o cientista político Grigorij Meseznikov.

Michel Truban, principal candidato da Eslováquia Progressista, é popular nas zonas urbanas, mas tem pouco apoio no interior. O Partido pelo Povo, do ex-presidente Andrej Kiska, perde com a identificação com os políticos tradicionais.

Sem uma aliança democrática centrista que poderia tirar votos da social-democracia e dos nazistas, Kotleba se apresenta como o novo e acusa as elites políticas em Bratislava e Bruxelas de não se preocuparem com os "eslovacos comuns".

Xenófobo e antissemita, o líder neonazista ataca judeus, ciganos, imigrantes e homossexuais. Promete impedir uma "invasão de migrantes", usando a expressão abusada do presidente americano, Donald Trump.

Seu ídolo é o ditador Jozef Tiso, líder do regime clerical-fascista controlado por Hitler, que eliminou oposicionistas e ajudou a deportar judeus para campos de concentração e centros de extermínio como Auschwitz.

O editor-chefe do jornalista assassinado, Peter Bardy, estima que pelo menos a metade do dinheiro enviado pela União Europeia seja desviado por políticos e empresários. Mas sabe que os escândalos de corrupção fortalecem Kotleba, que se apresenta como único político não corrupto. Ele alega até mesmo que a morte de Kuciak foi uma conspiração para favorecer os políticos liberais e pró-europeus.

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