sábado, 29 de fevereiro de 2020

Acordo EUA-Talebã tenta acabar com a guerra no Afeganistão

Depois de uma semana de "redução da violência", os Estados Unidos e a milícia fundamentalista sunita dos Talebã (Estudantes) assinaram hoje um acordo para a retirada das forças internacionais do Afeganistão em um ano e dois meses. É o primeiro de muitos passos para acabar com a Guerra do Afeganistão, a mais longa da história americana.

A próxima etapa será a negociação direta entre a milícia e o regime instalado no poder depois da intervenção militar dos Estados Unidos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em reação aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Os extremistas dos dois lados vão tentar impedir um acordo.

As questões centrais são a retirada dos EUA e aliados e o compromisso dos Talebã de não deixar o território afegão ser usado por grupos extremistas muçulmanos como Al Caeda e o Estado Islâmico para fazer ataques terroristas.

Um ponto crucial será o tamanho do contingente americano que vai ficar no Afeganistão para combater o terrorismo. Os Talebã exigem uma retirada total das forças estrangeiras. É provável que as alas mais radicais rejeitem o acordo e continuem a luta armada.

Se a retirada for total, é provável que se repita o que aconteceu no Vietnã, onde o governo-fantoche instalado por Washington não resistiu à ofensiva do Vietnã do Norte, que tomou o Sul e reunificou, em 1975, o país, dividido em 1954, quando terminou a dominação colonial francesa.

Neste caso, as potências vizinhas, a China, a Rússia e o Paquistão devem entrar no vácuo deixado pelos EUA.

Não há garantia alguma de que os Talebã pretendam ou possam cortar os laços com Al Caeda e o Estado Islâmico. Todos seguem a mesma ideologia, o jihadismo salafista, chamado de deobandismo no Afeganistão. O grupo Khorasan, a versão afegã do Estado Islâmico, foi criada por dissidentes dos Talebã, mas os EUA e o Ocidente são inimigos comuns.

Por outro lado, o atual regime afegão não conseguem nem fazer eleições. Seis meses depois da votação, realizada em setembro, as autoridades eleitorais anunciaram a vitória do presidente Achraf Ghani Ahmadzai. Seu principal adversário, o primeiro-ministro Abdullah Abdullah, rejeitou a derrota e anunciou a criação de um governo paralelo.

Ghani é do povo pachtun, o mesmo dos talebã, o maior do Afeganistão, 42% da população, estimada em 38 milhões de pessoas. Abdullah é um tajique, segundo maior grupo étnico, com 27% da população.

A falta de um governo central que controle todo o território, a disseminação de armas e explosivos e o estado de guerra, que vem desde a queda do rei Mohamed Zahir Shah, em julho de 1973, contribuem para a continuação da insurgência e da guerra civil.

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