As bolsas de valores da Ásia abrem hoje em ambiente de incerteza à espera da reação da Coreia da Norte às novas sanções aprovadas ontem por unanimidade pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas por causa de seus repetidos testes nucleares e de mísseis.
Todas as exportações norte-coreanas de carvão, chumbo, minério de chumbo, ferro, minério de ferro e frutos do mar serão proibidas, assim como o envio de mais trabalhadores ao exterior. O Banco de Comércio Exterior da Coreia do Norte sofrerá novas restrições internacionais.
A previsão é que as sanções reduzam as exportações norte-coreanas de US$ 3 bilhões para US$ 2 bilhões, uma redução de um terço, isolando ainda mais a ditadura stalinista de Pionguiangue, que tem 85% do seu comércio exterior com a China.
Ao comentar a aprovação, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, comentou que a resolução é "um passo forte e unido para tornar a Coreia do Norte responsável pelos seus atos". Antes da votação, ela havia dito: "Toda essa irresponsabilidade nuclear e com mísseis balísticos intercontinentais tem de parar."
A unanimidade reflete a insatisfação do regime comunista chinês com o regime comunista norte-coreano. A China não adota medidas mais duras por temer o colapso da ditadura de Pionguiangue, uma fuga em massa de refugiados, instabilidade na sua fronteira e a unificação da Península Coreana sob a liderança da Coreia do Sul, onde os EUA mantém 28 mil soldados.
O embaixador chinês na ONU, Liu Jieyi, fez um apelo à Coreia do Norte para que "pare de fazer ações que possam escalar a tensão". Ele criticou os EUA e pediu o desmantelamento de um sistema de defesa antimísseis que começou a ser instalado na Coreia do Sul.
Desde o colapso da União Soviética, em 1991, o regime comunista norte-coreano perdeu sua grande patrocinadora e faz uma chantagem atômica com o Ocidente em busca de ajuda de energia e alimentos. Em 1994, no governo Bill Clinton, os EUA fizeram um acordo.
Vários acordos foram violados por Pionguiangue. Desde 2006, quando fez o primeiro de seus cinco testes nucleares, a Coreia do Norte ignorou seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU proibindo o desenvolvimento de armas atômicas e de tecnologia de mísseis.
Com a ascensão ao poder do jovem ditador Kim Jong Un depois da morte do pai, em 2011, o neto do Grande Líder Kim Il Sung, fundador da Coreia do Norte, acelerou os programas nuclear militar e de tecnologia de mísseis.
Depois da Guerra do Golfo de 1991, para expulsar os iraquianos do Kuwait, a Índia concluiu que para enfrentar os EUA um país precisa de armas nucleares. A Índia testou uma bomba atômica em 1998, assumindo publicamente um status nuclear que tinha desde 1974.
Quando o então presidente George Walker Bush citou um "eixo do mal" formado por Irã, Iraque e Coreia do Norte e atacou o Iraque para derrubar Saddam Hussein, em 2003, a Coreia do Norte e o Irã intensificaram seus programas nucleares.
Kim Jong Un teria decidido que a bomba atômica é a única defesa segura para seu governo depois da intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA, para derrubar o ditador da Líbia, Muamar Kadafi, em 2011.
Kadafi abriu mão de seu programa nuclear para se aproximar do Ocidente e colaborou na perseguição a jihadistas na "guerra contra o terrorismo", mas na hora em que precisou se defender estava desarmado.
É difícil que Kim Jong Un tenha qualquer incentivo para abrir mão do arsenal nuclear. Esta última resolução foi adotada depois de dois testes de mísseis balísticos intercontinentais com potencial para atingir o território americano.
O secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmou na semana passada que os EUA não são uma ameaça à Coreia do Norte e não querem mudança de regime no país, mas alertou que a ameaça dos mísseis nucleares norte-coreanos é inaceitável. Se acreditar que a ditadura de Pionguiangue adquiriu capacidade nuclear para atingir os EUA, o presidente Donald Trump está disposto a atacar.
Uma guerra seria potencialmente devastadora, especialmente para a Coreia do Sul, alvo imediato de uma retaliação norte-coreana. Também não interessa à China, preocupada em manter a estabilidade que garantiu seu extraordinário crescimento econômico. Mas não pode ser descartada.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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