O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, chegou hoje a Moscou com uma mensagem clara ao presidente Vladimir Putin: a Rússia terá de escolher entre os Estados Unidos ou a Síria, o Irã e a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus).
Num ultimato a Putin, o chefe da diplomacia americana declarou em Lucca, na Itália, onde ontem participou de uma reunião do Grupo dos Sete (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) antes de seguir para Moscou: "Queremos aliviar o sofrimento do povo sírio. A Rússia pode ser parte deste futuro e ter um papel importante. Ou a Rússia pode manter sua aliança com este grupo, que acreditamos que não vá servir os interesses russos a longo prazo."
Tillerson conheceu Putin quando era presidente da companhia de petróleo Exxon. Agora, questiona o compromisso real da Rússia com o desarmamento químico da Síria, decidido em 2013 depois que o então presidente americano, Barack Obama, resolveu não bombardear o regime sírio depois do uso de um ataque químico que mais 1.421 pessoas em Guta, na periferia de Damasco.
Na sua opinião, não está claro se a Rússia foi incompetente ou agiu de má fé, mas para os mortos "não faz muita diferença": "A Rússia falhou ao não manter os acordos feitos com base em múltiplas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essas acordos estipulavam que a Rússia garantiria que a Síria não teria mais armas químicas."
A Rússia insiste em que a ditadura de Bachar Assad é o governo legítimo da Síria. Em linha com o regime, acusa todos os seus inimigos de "terroristas" e não aceita a exigência dos EUA e da Europa de que o ditador seja afastado em qualquer processo de paz. Putin não abre mão de manter o aliado Assad no poder em Damasco.
Quando assumiu, o presidente Donald Trump estava disposto a melhorar as relações com o Kremlin. Tillerson chegou a dizer que "o futuro de Assad será decidido pelos sírios". Depois do bombardeio químico da semana passada, voltou à posição de Obama, que exigia a remoção do ditador.
"Está claro para todos nós que o reino da família Assad está chegando ao fim", afirmou o secretário de Estado. "A questão é como vai terminar e como será a transição tendo em vista a durabilidade e a estabilidade de uma Síria unida."
Para aumentar ainda mais a tensão entre as superpotências da Guerra Fria, altos funcionários dos EUA acusaram a Rússia de saber do bombardeio químico, ou seja, de cumplicidade com o crime de guerra da Síria.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Com o Assad no poder, Putin consegue impedir a conexão dos oleodutos e gaseodutos do golfo pérsico com a Europa. Será que Putin daria um tiro no pé e perderia o monopolio do fornecimento de gás a Europa? Além das bases militares.
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