Com o Partido Trabalhista, o maior da oposição, mais de 20 pontos percentuais atrás do Partido Conservador nas pesquisas, a primeira-ministra Theresa May anunciou hoje a convocação de eleições antecipadas para a Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico em 8 de junho de 2017. Tenta obter um mandato para se fortalecer nas negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
May chegou à chefia do governo em consequência do plebiscito que decidiu pela saída da UE, realizado em 23 de junho de 2016. A derrota derrubou o primeiro-ministro David Cameron. Ele convocou o plebiscito para tentar acabar com a guerra civil interna do Partido Conservador. Acabou dividindo o país e comprometendo seu futuro.
O não à Europa ganhou por 52% a 48%, contrariando as pesquisas e a maioria do eleitorado jovem. Nem os defensores da Brexit (British exit = saída britânica, em inglês) esperavam isso. Não estavam preparados para os enormes desafios do divórcio com a UE.
Com a demissão de Cameron, o Partido Conservador teve de eleger um novo líder. Os líderes da campanha pela saída da UE dentro do partido, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson e o ex-ministro da Educação e da Justiça Michael Gove brigaram entre si. E uma regra não escrita da política britânica se mostrou válida mais uma vez: quem mata o rei não ascende ao trono.
Foi assim quando Michel Heseltine derrubou a primeira-ministra Margaret Thatcher num disputa interna pela liderança do partido, em novembro de 1990. Quem herdou a liderança do partido e a chefia foi John Major.
O regicídio de Thatcher fraturou irremediavelmente o Partido Conservador entre as alas pró e antieuropeia. A guerra civil levou à convocação do plebiscito, promessa da campanha à reeleição de Cameron, em 2015.
Theresa May era ministra do Interior e apoiou Cameron durante o plebiscito por uma questão de lealdade. Essa lealdade foi sua maior credencial na disputa pela liderança conservadora. Mas, diante do país, é uma primeira-ministra que chegou ao poder sem o aval do voto popular.
Ao mesmo tempo, a vitória da Brexit abalou profundamente a oposição trabalhista. O líder do partido, Jeremy Corbyn, nunca foi grande fã da União Europeia, que considera um projeto capitalista e liberal demais para suas ideias socialistas.
Com a hesitação de Corbyn, a oposição trabalhista não fez uma campanha decidida em defesa da permanência do Reino Unido na UE, contrariando a posição da maioria de seus deputados.
A liderança de Corbyn foi desafiada, mas mais uma vez, com o apoio dos sindicatos, ele venceu a disputa interna, onde todos os filiados ao partido têm direito a voto.
Essa oposição frágil e divida foi a principal razão para May antecipar as eleições.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
terça-feira, 18 de abril de 2017
Primeira-ministra britânica convoca eleições para 8 de junho
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