Depois de acumular superpoderes, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, merece cada vez mais o apelido de Sultão, por seu sonho de restaurar o poder e a glória do Império Otomano, mas observadores internacionais não consideraram honesto o referendo constitucional de domingo, que mudou o regime de governo de parlamentarista para presidencialista.
A missão da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) concluiu que as duas partes não tiveram as mesmas oportunidades para defender suas posições. Durante a campanha, o sim teve 90% do tempo destinado pela televisão.
Ao aceitar cédulas sem o carimbo oficial no versão, o Conselho Eleitoral da Turquia eliminou o principal mecanismo para evitar fraudes. A oposição denuncia que mais de 3 milhões de votos não carimbados foram considerados válidos.
A União Europeia reagiu negativamente e pode suspender as negociações já estagnadas sobre o acesso da Turquia. Nada parece mais distante. Erdogan, um político que chegou ao poder em 2003 como um islamita moderado, tornou-se cada vez mais autoritário nos últimos anos, especialmente depois da fracassada tentativa de golpe de Estado de 15 de julho de 2016.
Desde então, o cada vez mais ditador turco prende quem quer. Até líderes da oposição foram presos durante a campanha. Hoje o estado de emergência foi prorrogado por mais três meses.
Com a vitória por 51,4% a 48,6%, o presidente passa a concentrar os poderes de chefe de Estado e de governo. Desaparece o cargo de primeiro-ministro. Tudo será decidido diretamente pelo presidente e pela Assembleia Nacional, que tende a simplesmente referendar as decisões do Executivo.
Outro regime autoritário, da Rússia, pediu respeito ao resultado do referendo. Com um populista autoritário na Casa Branca, a Turquia terá condições de manter boas relações com os Estados Unidos, mas não com a Europa.
Trump telefonou para cumprimentar Erdogan pela vitória sem fazer qualquer restrições nem aos métodos nem aos superpoderes.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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