Os Estados Unidos entraram em contato com a Rússia várias vezes para alertar que iam atacar a base aérea de onde partiu o bombardeio químico que matou pelo menos 86 pessoas em Khan Cheikhun, no Noroeste da Síria, noticiou a televisão americana CNN. Como havia militares russos na base nos últimos dias, o alerta serviu para retirá-los. Até agora, não há informações sobre feridos.
Dois contratorpedeiros americanos baseados no Leste do Mar Mediterrâneo dispararam hoje à noite 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk contra a base de Al-Chairate, perto da cidade de Homs, na Síria. Os EUA têm imagens de satélite e radar dos aviões e das explosões do ataque químico.
Em declaração a jornalistas durante o encontro de cúpula dos presidentes Donald Trump e Xi Jinping, da China, em Mar-a-Lago, na Flórida, o secretário de Estado, Rex Tillerson, declarou que "claramente a Rússia não cumpriu o compromisso assumido em 2013", quando negociou com os EUA o desarmamento total do arsenal de armas químicas do regime de Assad.
Trump, em breve pronunciamento, afirmou se tratar de um ataque "limitado" e pediu uma união das "nações civilizadas" para acabar com a guerra civil da Síria e o terrorismo internacional.
Essa ação limitada lembra o ataque ordenado pelo presidente Donald Trump contra os palácios do ditador Muamar Kadafi, em abril de 1986, em retaliação a um atentado terrorista numa boate frequentada por soldados dos EUA na Alemanha. Foi uma punição.
O presidente americano assumiu uma superioridade moral. Acusou Assad de violar a Convenção para Proscrição Total de Armas Químicas e de cometer um crime de guerra: "Anos de tentativas de mudar o comportamento de Assad fracassaram", disparou Trump.
Depois do bombardeio químico, Trump voltou a adotar a política de Obama de afastar Assad num futuro acordo de paz mesmo que o regime seja a parte mais forte na negociação. Dias atrás, o secretário Tillerson falou que "o futuro de Assad será decidido pelos sírios".
Agora, o secretário insiste que a política dos EUA não mudou. Vai tentar afastar Assad pela via diplomática nas negociações de paz conduzidas pelas Nações Unidas em Genebra, na Suíça.
A mensagem é clara: os EUA não vão tolerar ataques com armas químicas. A Rússia, o Irã, a China e a Coreia do Norte ficam avisados de que há um novo presidente na Casa Branca disposto a usar a força.
Ao mesmo tempo, Trump pune Assad, adverte os possíveis inimigos externos, consolida sua base de poder no Partido Republicano, sempre favorável ao uso da força, e desvia a atenção dos problemas internos, inclusive a investigação sobre conluio com a Rússia durante a campanha eleitoral. Tudo isso somado aumenta sua popularidade, que era a menor de um presidente no início de mandato, em torno de 35%.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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