O principal suspeito pelo atentado terrorista que matou 14 pessoas no metrô de São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, foi identificado. Era Jalilov Akbarjon Akramjanovich, de 22 anos, cidadão russo com origem na ex-república soviética do Quirguistão.
A identidade foi confirma pelo Comitê de Segurança Nacional do Quirguistão, a que as autoridades russas recorreram, informou a agência de notícias Interfax. Sua imagem havia sido mostrada no Canal 5 da televisão em São Petersburgo, a segunda maior cidade russa.
A bomba estaria numa mochila. O total de mortos subiu para 14 pessoas. Outra bomba foi desativada numa estação de metrô próxima do local da explosão, que aconteceu dentro de um trem, entre as estações Praça Sennaya e Instituto de Tecnologia.
Nos últimos quatro anos, com a exceção das repúblicas muçulmanas conflagradas do Norte do Cáucaso, a Rússia não foi alvo. Um mês depois do início da intervenção militar russa na Síria, um atentado terrorista derrubou um avião da companhia aérea Metrojet na rota entre Charm al-Cheikh, no Egito, e São Petersburgo, matando todas as 224 pessoas a bordo, em 31 de outubro de 2015.
Como observa a empresa de consultoria e análise estratégica americana Stratfor, quem quer que seja o responsável favorece a estratégia do presidente Vladimir Putin e do Kremlin na busca de inimigos externos ou internos mas não russos étnicos para justificar os problemas do país.
Putin deve aproveitar para reforçar a segurança e atacar os críticos de seu regime autoritário. Ele nasceu em São Petersburgo, foi vice-prefeito da cidade antes de se tornar primeiro-ministro e presidente, e estava lá na hora do atentado.
Ao aumentar a sensação de vulnerabilidade dos russos, o atentado justificaria novas medidas repressivas.
Em 1999, Putin se firmou como primeiro-ministro e se credenciou para ser presidente, substituindo Boris Yeltsin, depois de uma série de atentados atribuídos a extremistas muçulmanos da região do Cáucaso que levaram à Segunda Guerra da Chechênia, marcada por uma política de terra arrasada semelhante à usada pela Rússia na Síria.
Quando sua popularidade estava em queda, em setembro de 2004, terroristas muçulmanos atacaram uma escola primária em Beslã, matando 385 pessoas, sendo 186 crianças. Putin aproveitou para censurar os meios de comunicação, restringir a atividade de organizações não governamentais, ampliar o conceito de terrorismo e fortalecer os serviços de segurança.
Com a alta nos preços do petróleo antes da Grande Recessão de 2008-9, o governo estabilizou as finanças, fortaleceu a moeda e reestruturou os bancos. A qualidade de vida melhorou para a população em geral.
O partido de Putin, Rússia Unida, conquistou 64% das cadeiras na Duma do Estado, a câmara baixa do Parlamento, nas eleições de 2007. A câmara alta, o Conselho da Federação, é formada pelos governadores das 85 unidades administrativas da Rússia, que o presidente passou a nomear diretamente depois de acabar com as eleições regionais a pretexto de evitar o separatismo.
Na primeira década do reinado de Putin, a Rússia foi do colapso econômico de agosto de 1998 à recuperação parcial da glória do passado de superpotência. O presidente infiltrou seus aliados em toda a máquina estatal e incentivou um culto da personalidade de padrão soviético.
A forte recessão dos últimos anos abalou a imagem de prosperidade do putinismo. Em 2014, ele aproveitou a queda do presidente Viktor Yanukovich numa revolta popular para intervir militarmente na ex-república soviética da Ucrânia e anexar a península da Crimeia, fomentando um conflito com o Ocidente, que impôs sanções à Rússia.
Com a intervenção militar na Síria, a partir de 30 de setembro de 2015, Putin conseguiu sustentar o ditador aliado Bachar Assad no poder. A Rússia voltou a ser uma grande potência no Oriente Médio pela primeira vez desde que o ditador egípcio Anuar Sadat abandonou a União Soviética, em 1977, e se aliou aos EUA para recuperar a península do Sinai, ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Isso aumenta o risco de atentados terroristas de extremistas muçulmanos, que já existia por causa dos conflitos no Norte do Cáucaso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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