A Líbia está em festa para celebrar os 40 anos do golpe que levou ao poder o coronel Muamar Kadafi.
De revolucionário que financiava e armava grupos radicais palestinos e o Exército Republicano Irlandês, chegando a ter seu palácio bombardeada pelos Estados Unidos na noite de 14 para 15 de abril de 1986, no governo Ronald Reagan, Kadafi se tornou nos últimos anos em aliado do Ocidente na luta contra o terrorismo dos fundamentalistas muçulmanos. Afinal, eles encontraram um inimigo comum.
O novo Kadafi mantem o estilo fanfarrão, como se pode ver na festa de recepção ao agente líbio Abdel Basset al-Megrahi. Único terrorista condenado pela explosão de um Boeing 747 da companhia aérea PanAm em Lockerbie, na Escócia, em 21 de dezembro de 1988, Megrahi foi sentenciado a prisão perpétua. Deveria cumprir pelo menos 27 anos na cadeia. Foi libertado no mês passado por razões humanitárias e recebido como herói.
Para piorar a situação, um dos filhos do ditador líbio declarou que havia negócios com petróleo na jogada. Oficialmente, a decisão foi tomada pelo ministro da Justiça da Escócia, um político de menor expressão, por razões humanitárias, para que Megrahi, que sofre de câncer terminal, possa morrer perto de sua família.
Ontem, os jornais de Londres afirmaram que no início do ano um ministro britânico disse ao coronel Kadafi que o primeiro-ministro Gordon Brown não queria que Megrahi morresse no Reino Unido. Os mesmos documentos revelados ontem mostrariam a pressão de empresários dos dois países pela libertação do agente líbio condenado por terrorismo.
A aproximação de Kadafi - e a entrega dos agentes líbios para serem processados já fora uma concessão - causa problemas e embaraços. Mas o petróleo líbio, as maiores reservas da África, é motivo suficiente para que as empresas estrangeiras entrem no país. A meta do governo é ampliar a produção de 2 para 3 milhões de barris por dia.
Com o declínio do socialismo e até mesmo do nacionalismo pan-árabe diante da ofensiva dos extremistas muçulmanos, Kadafi se voltou para o pan-africanismo. Foi um dos defensores da transformação da Organização de Unidade Africana na União Africana, o embrião de uma organização supranacional no estilo da União Europeia.
O início da festa, que vai durar uma semana, coincidiu com a reunião de cúpula da UA. Só que vai durar uma semana.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
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