quinta-feira, 30 de março de 2017

Presidente da África do Sul afasta ministro que combatia corrupção

Sob a cortina de fumaça de uma grande reforma ministerial, o presidente Jacob Zuma demitiu o ministro das Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, que combatia a corrupção governamental. É a maior crise do Congresso Nacional Africano (CNA) desde que o partido de Nelson Mandela assumiu o poder em nome da maioria negra, em 1994, pondo fim a três séculos de ditadura da minoria branca.

Ao todo, oito ministros foram demitidos na calada da noite de quinta-feira, quase todos críticos do presidente Zuma, obrigado pela Suprema Corte a devolver US$ 23 milhões gastos ilegalmente em sua mansão, entre outros escândalos, como as relações com a bilionária família Gupta.

O ministro das Finanças estava em Londres fazendo uma turnê de promoção de investimentos na África do Sul e deveria ir a Nova York e Boston quando foi chamado de volta, em 27 de março.

Zuma citou informes do serviço secreto para acusar Gordhan de tramar sua queda. Ele cai depois de uma batalha de um ano contra a corrupção, o tráfico de influência e o compadrismo nas empresas estatais, e a influência da família Gupta, amiga do presidente, no governo. O ex-ministro do Interior Malusi Gigaba será o novo ministro das Finanças, o quinto a ocupar o cargo em dois anos.

A moeda sul-africana, o rand, caiu 4% em relação ao dólar. Gordhan lutava para manter o grau de investimento da África do Sul. Seus aliados podem apresentar uma moção de desconfiança no governo à Assembleia Nacional.

Na batalha com Gordhan, Zuma explora uma divisão ideológica mais profunda no CNA. A ala mais à esquerda quer aumentar os gastos públicos para promover a maioria negra excluída durante o regime segregacionista do apartheid, enquanto a ala mais liberal economicamente que prefere manter o equilíbrio macroeconômico na tentativa de atrair investimentos estrangeiros.

Maior economia da África, com 24% do produto interno bruto do continente pelo critério de paridade do poder de compra, equivalente a US$ 725 bilhões por ano, a África do Sul voltou a superar a Nigéria, abatida pela queda nos preços do petróleo. Mas está estagnada, com crescimento médio de 1,1% nos últimos três anos.

Em 2008, Zuma derrubou o então presidente e líder do CNA Thabo Mbeki, sob a alegação de que estava na hora de aplicar o programa de Empoderamento Econômico dos Negros. Agora, entre seus planos, está a desapropriação de terras de propriedade de brancos sem compensação, que recebeu o apoio imediato dos Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF), partido de ultraesquerda chefiado por Julius Malema, ex-líder do setor jovem do CNA.

Três altos dirigentes do partido dominante, o secretário-geral Gwede Mantashe, o tesoureiro-geral Zweli Mkhize e o chefe do programa de Transformação Econômica, Enoch Godongwana, contradisseram o presidente. Afirmaram que a reforma agrária deve ser feita dentro da Constituição

A maioria negra continua sobrando e foi fuzilada como no tempo do apartheid no Massacre de Marikana, em 2012, com a cumplicidade do vice-presidente Cyril Ramaphosa, adversário de Zuma. O presidente pretende legar o poder a uma de suas mulheres, Nkosazana Dlamini-Zuma.

Antigo líder do superpoderoso Congresso dos Sindicatos (Cosatu) durante a luta contra a ditadura da minoria branca, preterido por Nelson Mandela, que escolheu Thabo Mbeki como sucessor, Ramaphosa se tornou milionário. Como vice-presidente, tentou abafar o inquérito sobre o incidente mais letal de uso da força pela polícia da África do Sul contra seu próprio povo desde o Massacre de Sharpeville, em 1960.

A dois anos das próximas eleições parlamentares, o CNA dá sinais de fadiga no poder e está dividido pelo populismo de Zuma. No ano passado, o presidente sobreviveu a um pedido de impeachment apresentado pela oposição por conta dos gastos abusivos em sua mansão por causa da ampla maioria do CNA. Dentro do partido, sua liderança é cada mais questionada.

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