Em mais um sinal do desprezo por aliados e da sua visão negocista da política, o presidente Donald Trump pediu um aumento de 400% para que a Coreia do Sul pague no próximo ano US$ 4,7 bilhões pela proteção militar dos Estados Unidos, que mantêm forças no país desde a Guerra da Coreia (1950-53), hoje cerca de 28,5 mil homens.
O Acordo de Medidas Especiais, que cobra a maioria das despesas pela presença militar americana na Coreia do Sul, está sendo renegociado. Não é a primeira vez que Trump quer aumentar preço. No ano passado, queria mais 50%. Acabou aceitando 8%. Exigiu em troca uma renegociação a cada ano.
Em última análise, a atitude de Trump abala a aliança entre os dois países e leva a Coreia do Sul a duvidar da proteção militar americana e partir para se tornar mais autossuficiente em segurança e defesa. Os EUA de Trump são inconfiáveis.
Alarmados pelos 400% de Trump, os Departamentos de Estado e da Defesa tentam justificar o aumento para os sul-coreanos. A Casa Branca quer incluir no preço a prontidão das tropas americanas, as manobras militares conjuntas e a rotação das tropas dos EUA.
A Coreia do Sul alega que estas obrigações não estão previstas no tratado bilateral de defesa. O presidente americano recuou no ano passado, mas este ano, inclusive pelo percentual de aumento pedido, a situação parece outra.
Os EUA podem pressionar a Coreia do Sul a retomar o acordo de cooperação em inteligência com o Japão e assim melhorar a relação bilateral dos dois países do Leste da Ásia, os maiores aliados americanos na região, que estão abaladas. Podem exigir que a Coreia do Sul não faça negócios com a companhia chinesa fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei, que a Casa Branca está boicotando, ou que o país aceite instalar mísseis nucleares de curto e médio alcances.
Do ponto de vista dos EUA, o aumento de preço faz parte de uma iniciativa de Trump de renegociar e reestruturar a presença militar americana ao redor do mundo, especialmente em países que ficaram ricos e podem gastar muito mais com defesa.
Do lado sul-coreano, é um sinal de que os EUA deixaram de ser um aliado confiável, o que obriga o país a ser mais independente, investir mais em defesa e considerar a possibilidade de desenvolver armas atômicas.
A Coreia do Norte já tem armas nucleares, as negociações de desarmamento de Trump com o ditador Kim Jong Un não levaram a lugar nenhum e ninguém acredita que o regime comunista de Pyongyang esteja disposto a abrir mão de todo arsenal atômico, desenvolvido a um custo elevado.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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