Várias unidades policiais de quatro departamentos da Bolívia aderiram hoje à revolta popular contra o presidente Evo Morales, acusado de fraude eleitoral para se reeleger para um quarto mandato, o que a rigor é proibido pela Constituição. A oposição rejeitou a proposta de diálogo do governo e o Exército avisou que não vai enfrentar a população. Quer uma solução pacífica.
"Não tenho nada a negociar com Evo Morales e seu governo", afirmou o ex-vice-presidente Carlos Mesa, candidato derrotado na apuração oficial das eleições de 20 de outubro e líder da oposição. A declaração acirrou ainda mais os ânimos e as manifestações de rua.
Partidários do governo bloquearam o acesso à cidade de El Alto para impedir que manifestantes de oposição fossem até La Paz, onde fica a sede do governo. Os policiais exigem os mesmos salários e regime de aposentadoria que os militares.
Como a polícia de La Paz aderiu à revolta, o regime militar Colorados de Bolívia estão garantindo a segurança do presidente. Sem acesso ao Palácio Queimado, Morales despacha no aeroporto da cidade vizinha de El Alto.
Milhares de camponeses produtores de coca estão marchando de Cochabamba em direção a La Paz. Eles atendem à convocação de Morales, que denuncia um "golpe de Estado" com o apoio do exterior, que ele não identificou. O presidente iniciou sua carreira política como líder do sindicato dos produtores de coca.
Pela lei boliviana, ganha no primeiro turno quem receber mais de metade dos votos válidos ou mais de 40% e uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado. Uma apuração preliminar realizada na noite do dia da eleição indicava que haveria segundo quando foi suspensa sem maiores explicações.
No dia seguinte, a apuração manual voto a voto dava mais ou menos o mesmo percentual aos dois principais candidatos quando foi suspensa. Recomeçou então a contagem preliminar e o presidente obteve a vantagem de dez pontos percentuais, confirmada dias depois pela contagem mais lenta.
A interrupção abrupta da contagem despertou suspeitas, inclusive da missão observadora da Organização dos Estados Americanos (OEA), que defendeu uma recontagem e revisão geral dos votos. Desde o início, Morales alegou que as acusações eram parte de um golpe de Estado. Sua situação é cada vez mais difícil.
Proibido pela Constituição de se reeleger pela segunda vez, o presidente argumentou que o primeiro mandato havia sido sob a Constituição anterior. Depois de perder em 2016 um plebiscito que autorizaria a reeleição sem limites, apelou à Corte Suprema tendo por base uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Tribunal de São José da Costa Rica, que entende que ser candidato é um direito fundamental.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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