Depois de três anos de expectativa, a maior empresa do mundo, a companhia estatal de petróleo saudita Saudi Aramco, anunciou hoje a abertura do capital. A monarquia absolutista da Arábia Saudita pretende vender 5% das ações e levantar US$ 100 bilhões, o que deixaria o valor total da empresa em US$ 2 trilhões.
O preço final de lançamento deve ser definido em 4 de dezembro. A Saudi Aramco estreia na Tadawul, a bolsa de valores saudita, em 11 de dezembro. A empresa é responsável por toda a produção de petróleo da Arábia Saudita, cerca de 10 milhões de barris por dia, e por 11% da produção mundial.
Hoje a maior empresa cotada em bolsa é a Apple, que vale cerca de US$ 1 trilhão. No ano passado, a Saudi Aramco teve um lucro líquido de US$ 111 bilhões, mais do que o dobro da Apple. Neste ano, lucrou US$ 86 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
Assim, a expectativa é que seja a maior oferta inicial de ações da história e supere os US$ 22 bilhões levantados pela Alibaba, a gigante chinesa de comércio eletrônico. O dinheiro levantado pela monarquia saudita vai para o Fundo de Investimento Público (FIP). A meta é preparar o país para a era pós-petróleo com o programa Arábia Saudita 2030.
Além de investir em empresas como o serviço de motoristas Uber, o FIP aplica seus fundos em energias alternativas e grandes projetos habitacionais para gerar empregos no reino. Só em Neom, uma cidade futurística a ser erguida no Noroeste do país, será gasto meio trilhão de dólares.
Os projetos faraônicos, o lançamento de ações e o programa de modernização são propostas do príncipe-herdeiro, Mohamed ben Salman, o ditador de fato, o homem-forte do regime saudita. Ele é acusado pelo assassinato brutal do jornalista Jamal Khashoggi, e por crimes de guerra cometidos durante a intervenção militar da Arábia Saudita e aliados na guerra civil do Iêmen, em apoio ao presidente deposto, Abed Rabbo Mansur Hadi, contra os rebeldes hutis, apoiados pelo Irã.
Em 14 de setembro, mísseis e bombas atingiram campos de petróleo sauditas, reduzindo temporariamente a capacidade de produção da Saudi Aramco. Pior do que isso foi a demonstração de fraqueza e vulnerabilidade das instalações de petróleo sauditas.
Os hutis reivindicaram a autoria do ataque, mas também há suspeitas sobre outras milícias aliadas ao Irã no Iraque e a Guarda Revolucionária Iraniana, tropa de choque do regime dos aiatolás. A Arábia Saudita, Israel e os Estados Unidos acusaram o Irã, mas não houve retaliação direta por medo de novos ataques à indústria do petróleo saudita.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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