Numa decisão capaz de deflagrar uma onda de violência, por unanimidade, a Suprema Corte da Índia autorizou a construção de um templo hindu no local onde havia uma mesquita do século 16 destruída em 6 de dezembro de 1992, na cidade de Ayodhya, no estado de Uttar Predesh, reverenciada como lugar de nascimento do deus Rama.
A destruição da Mesquita de Babri por uma multidão, em 1992, provocou uma onda de violência em que cerca de 2 mil pessoas foram mortas. Agora, o tribunal autorizou a construção da mesquita em outro local da cidade. Para garantir a calma, 4 mil policiais foram enviados à região.
Foi mais uma vitória para o primeiro-ministro Narendra Modi e seu projeto de reconstruir a Índia com base no nacionalismo hindu, minando o secularismo dos líderes da independência do país, Mohandas Gandhi e Jawaharlal Nehru.
Modi e o Partido Bharatiya Janata (BJP) venceram as eleições parlamentares de abril e maio com uma plataforma nacionalista hindu. Reeleito para um segundo mandato, Modi acabou com a autonomia regional que a região da Caxemira, de maioria muçulmana, tinha desde a independência da Índia do Império Britânico e da divisão do país entre Índia e Paquistão, em 1947.
O fim da autonomia da Caxemira provocou grandes protestos do Paquistão, que defende a realização de um plebiscito para que a população local decida se quer ficar na Índia ou aderir ao Paquistão. A questão da Caxemira é a mais explosiva entre os dois inimigos históricos, que possuem armas nucleares e já travaram quatro guerras, três delas pela Caxemira.
A ala mais extremista do movimento nacionalista hindu considera a construção do templo no local de nascimento do deus Rama uma etapa fundamental da conversão da Índia num país hindu depois do que descrevem como séculos de opressão do Império Mughal e do Império Britânico. O Império Mughal destruiu um templo que havia no local para construir a Mesquita de Babri em 1528-29.
O processo judicial estava em andamento desde os anos 1950. Em 2010, chegou à Suprema Corte.
Para a minoria de mais de 200 milhões de muçulmanos (14%), a mudança de status da Caxemira e a decisão da Suprema Corte indicam que eles estão sendo rebaixados a cidadãos de segunda classe na Índia. Os indus são 80% da população do país, que tem 1,371 milhões de habitantes.
"Hoje é mensagem é unir, se associar e viver junto", declarou o primeiro-ministro, tentando acalmar a situação. "Na nova Índia, o medo, a animosidade e a negatividade não têm lugar."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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