Desde sua desastrosa vitória sem maioria absoluta nas eleições parlamentares de 8 de junho de 2017 no Reino Unido, a primeira-ministra conservadora Theresa May está sob pressão para negociar uma saída "suave" da União Europeia, mantendo a participação no mercado comum europeu. A última voz a se levantar é de seu antecessor, o primeiro-ministro David Cameron, que convocou e perdeu o plebiscito de 23 de junho do ano passado.
Em seu primeiro comentário público desde que o Partido Conservador perdeu a maioria absoluta na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, Cameron defendeu uma coordenação com outros partidos para adotar uma posição comum nas negociações com a UE.
"Será difícil, não há dúvida, mas talvez seja uma oportunidade para consultar outros partidos", ponderou Cameron, citado pelo jornal Financial Times. "Penso que haverá pressão por uma saída suave."
O debate em si já desnuda a insensatez da decisão de convocar o plebiscito para tentar pacificar a direita eurofóbica do partido. Uma saída suave significa manter a participação no mercado comum. O problema é que o resto da Europa exige respeito à regra fundamental, que é a livre circulação de bens, pessoas e capitais.
Como uma das principais razões da vitória da Brexit (saída britânica) foi a repulsa aos imigrantes, o desejo de controlar a imigração e as fronteiras sem interferência da UE, May entende que não pode ceder neste ponto e admite não fazer nenhum acordo. Seria desastroso para a economia britânica.
Além disso, será um mercado comum onde o Reino Unido não terá voz nas decisões. Os outros líderes da UE deixaram claro que, fora do bloco, o país não vai conseguir negociar condições melhores. Sair do mercado será uma catástrofe. Ficar sem ter qualquer poder de decisão será diminuir a importância do Reino Unido de qualquer maneira.
Sob pressão da bancada reduzida, May tenta evitar um desafio à sua liderança. Nomeou Michael Gove, um dos seus adversários na disputa pela liderança no ano passado, ministro do Meio Ambiente. Mas sua autoridade foi definitivamente abalada pela aposta de convocar eleições antecipadas. Em vez de se fortalecer enfraqueceu.
O único aspecto positivo é que May não terá qualquer condição de jogar duro com os europeus, se realmente ficar no cargo. As negociações começam na próxima semana e a UE não parece disposta a fazer concessões.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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